- Consensos
e Polêmicas
Pelo menos no
discurso veiculado nos jornais e revistas aparece como tendência majoritária a
ideia de que os psicotrópicos constituem um avanço da medicina, desde que
usados de forma adequada. Entretanto, o recurso a estes medicamentos estaria
sendo claramente abusivo. Muitas pessoas estariam tomando-os desnecessariamente
e se colocando em perigo. Embora haja diferentes análises das motivações para o
uso descontrolado e indevido dos psicotrópicos, como mencionamos anteriormente,
há um relativo acordo de que ele existe e envolve riscos. A polêmica se
instaura sobre outros temas; a questão da origem dos distúrbios psíquicos ser
primordialmente orgânica ou incluir demais aspectos de importância similar,
como os familiares e sociais, é um deles. Desta questão derivam outras, que
envolvem os procedimentos de buscar resolução para distúrbios. Qual o papel dos
medicamentos? Quando introduzir a medicação e quando suspendê-la? Quando a
psicoterapia se faz necessária? A indicação concomitante destes tratamentos é
adequada? Que outros procedimentos são legítimos para enfrentar o problema? O
que é patológico e o que é normal?
Nos extremos desta polêmica
destacam-se duas posições. De um lado o argumento contrário ao uso dos
psicotrópicos; os medicamentos não resolvem as causas de distúrbios psíquicos,
apenas controlam seus efeitos, são meros artifícios químicos, camisas-de-força
farmacológicas. Elas não possuem qualquer valor comprovado para curar, e quanto
mais a pessoa usá-los, menos recursos terá para se livrar do desajuste que
motivou o seu consumo. Eles podem controlar a crise de pânico, por exemplo, mas
a fobia fica. Passado o efeito o desconforto se apresenta ainda maior, pelo
efeito rebote. Não melhoram o doente, que permanece com os conflitos que
geraram o desajuste. Os psicotrópicos são danosos, o começo de uma destruição
psicológica em nome de um pseudo bem estar. Este argumento encontra-se
listado na citação abaixo.
Quem
busca em remédios ou drogas uma máscara para a alma, precisa lembrar que são paraísos artificiais...
Essas substâncias podem fazer com que o sujeito se afunde de vez, o que é pior,
com prescrição médica. (Veja, 28 maio 1997).
... Os medicamentos antidepressivos atuam
como meros estimulantes químicos, perfeitas camisas-de-força onde jamais podem
elaborar as verdadeiras causas da depressão. Ao contrário, aplacam suas causas
originais, proporcionando um falso alívio uma relação quase que de extrema
dependência do paciente com os remédios. (Jornal do Brasil, 10 jun 1990).
Ainda de
acordo com esta linha crítica, os especialistas que apostam demasiado no corpo
como razão dos distúrbios mentais; enchem seus pacientes de medicamentos,
reduzem os surtos momentâneos e espalham efeitos colaterais, mas não evitam que
as crises voltam. A busca de um remédio que propicie um estado de felicidade
permanente, imperturbável, diante das vicissitudes da vida, camuflaria uma
ambição de controle do comportamento humano através da onipotência médica.
Noutro extremo,
existe a defesa de que só e apenas o uso de medicamentos pode curar ou aliviar
doenças mentais como a depressão, por exemplo.
A psicoterapia
seria boa para as pessoas conversarem e se conhecerem melhor, mas as doenças
têm que ser tratadas com medicamentos e não com conversa. A depressão não é um
estado de espírito, ou uma visão de mundo, mas uma doença causada por
distúrbios químicos no organismo, é controlada cada vez mais com medicamentos,
os chamados antidepressivos. É o resultado de uma predisposição genética e fruto
de um distúrbio dos centros talâmicos do cérebro. O emprego da psicoterapia
para a sua cura é um engodo.
Tem de tomar remédio (...).
Depressão é uma doença. Tem boa chance de cura, mas é uma doença. Não é uma
fraqueza moral. Não é um amolecimento do caráter. Não é um faniquito do qual se
possa sair apenas “levantando a cabeça” e esquecendo o problema. (Veja 10 de
jan 1996).
Nunca se provou que
conflitos e problemas sociais levam a doenças mentais. A psicoterapia é boa
para as pessoas se conhecerem melhor. As doenças têm que ser tratadas com
remédios e não com conversa (Jornal do Brasil, 2 abr; 1990).
Em
meio a estas duas posições polares, encontra-se uma terceira que busca integrar
causas orgânicas, psicológicas, socioculturais e ambientais. A natureza e a
gravidade do problema seja ansiedade, depressão ou psicose definem os recursos
a serem utilizados no tratamento. A combinação de medicamentos e psicoterapia
pode ser ideal nos casos mais graves. Usados apropriadamente, os psicotrópicos
apresentam uma boa relação risco-benefício.São úteis para manter graves doenças
mentais sob controle, para diminuir o tempo de hospitalização e podem ajudar
uma pessoa a superar um período difícil. Cabe ao médico não receitá-los antes
de tentar descobrir a origem do problema e de avaliar outros tipos de
tratamento disponíveis.
J.P.
abordou a depressão, assunto em que é uma das maiores autoridades brasileiras,
dizendo que é fácil caracterizá-la por trás dos sintomas fundamentais:
diminuição da iniciativa, diminuição do humor e sentimento de desesperança. O
tratamento deste mal para ele, é feito com medicação específica para aliviar
sintomas e com psicoterapia de enfoque analítico, para ajudar o indivíduo a
contornar, reformular e superar as causas (Jornal do Brasil, 26 jan 1981)
Os
remédios libertam o indivíduo da sua angústia e o tornam apto a encontrar
saídas para sua vida através da psicoterapia (Jornal do Brasil 2 abr, 1990)
Ao
procurar um médico, muitas vezes, as pessoas não encontram alguém que as ouça e
em alguns casos, bastaria isso. O diálogo entre médico e paciente tem sido
substituído por uma bateria de exames. Ás vezes, alguns conselhos são
suficientes para evitar a prescrição desnecessária de alguns fármacos. Banhos
quentes, chás de ervas, exercícios físicos como corrida ou caminhada,técnicas
de relaxamento com a ioga e a meditação também podem auxiliar algumas pessoas.
Homeopatia, acupuntura, remédios florais, terapias grupais ou psicoterapia
individual são caminhos possíveis para outras pessoas e cada vez mais indicados.
Resolver problemas de forma coletiva por ser um passo mais promissor do que o
balcão de farmácia. A combinação de diferentes abordagens no tratamento assume
variados matizes, de acordo com o caso.
A
ansiedade que leva uma pessoa ao médico pode ser um processo natural e útil, um
instrumento da natureza humana não apenas para sua evolução e progresso, mas
também para defendê-lo contra agressões de qualquer tipo. Todos nós
experimentamos alguma ansiedade – quer pessoal, familiar, relacionada com a saúde
ou com a situação econômica, ou de outra natureza.
Ansiedade,
medo ou desânimo são, em alguns momentos da vida, componentes do amadurecimento
emocional e espiritual do ser humano. Algumas pessoas encontram na tristeza ou
no inconformismo estímulo para criar na literatura, na música, na pintura o que
pode ser útil para elas. Atualmente o risco de psiquiatrizar eventos
cotidianos, que não são necessariamente patológicos. Muitos autores qualificam
alguns tipos de depressão como uma reação normal de emergência frente a uma
situação crítica pela qual passa o indivíduo. Em alguns casos, há dificuldades
na distinção entre uma simples tristeza e uma doença. O uso de tecnologia
médica tem contribuído significativamente para a melhora da situação de saúde
alterando de maneira positiva indicadores de doença e morte evitáveis. Porém,
não é demais termos cautela frente a propostas e enfoques tecnológicos para
curar ou atenuar males do nosso tempo.
Fonte:
Marilene Cabral do Nascimento – Vitaminas, analgésicos, antibióticos e
psicotrópicos: vantagens e perigos de uso de produtos da indústria farmacêutica
mais consumidos no Brasil /Edt Vieira e Lent Rio de Janeiro 2003.
Reportagens
pesquisadas (em ordem cronológica)
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Tranqüilidade
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Psiquiatra
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Xarope
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Xarope e
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Dono de
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Para saber
mais – Informações recentes
www.carosmaigos.com.br (Caros
amigos ano xv n0 169/2011).
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