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MÃE, MULHER, A SORORIDADE DE UM DIA COMUM: ALÉM DO DIA DA MULHER E DAS MÃES

Photo by Nick Arnot on Unsplash


Voltando de uma consulta, aprendi algo com minha mãe. Ela, com seu caminhar lento em seus quase 90 anos que jamais aparentou, procurei mais do que reduzir meu caminhar para acompanhá-la, mais abri minha alma ao tempo dela, como se naquele momento estivéssemos numa bolha em meio a todo movimento frenético do Centro da cidade.

Ali, junto com ela, tecemos um outro tempo e deixei-me envolver por aquele momento, seu ser, sua fala, seu pensar. É sempre bom estar com ela, pela sua ainda presente jovialidade. Minha mãe sempre me capturou pelo seu bom humor. Tenho com ela um arquivo de muitas risadas tiradas até de situações ácidas, tenho um arquivo da sua mão nos meus cabelos na infância que podia sentir a calma que vinha das suas mãos e quase dormia quando penteava meus cabelos. Ela ainda me acalma e me ensina a calma.

Mesmo em nossas diferenças de pensamento, o riso, a sua energia tão suave de quem tem Rosa no nome, sempre foi a nossa sororidade, a nossa parceria de mulheres tão únicas, marcadas pela diferença grande de idade, por este abismo geracional que inibe certos diálogos, mas não nos impede de nos encontrarmos no possível de cada uma.

Ah! Tantas coisas nos separam, mas o que nos une é sutil quase etéreo. É um pouco desta mulher que trago comigo cuja doçura, e alegria aprendo. Bom chegar a esta equação realista do seu papel na minha vida, porque ela deu o que tinha condições de dar.


MÃE, MULHER: A SORORIDADE DE UM DIA COMUM


Photo by Oladimeji Odunsi on Unsplash

O feminino tem nos conduzido na atualidade a muitas reflexões. Há neste tempo ainda a justa necessidade de afirmação da mulher ser aquilo que quer ser, demarcar certos limites para que não mais ocorram abusos. A importância da cumplicidade entre mulheres que historicamente foram colocadas pelo patriarcado, num lugar de competição e agressão mútua, porque em estratégias de dominação dividir é sempre o alvo para enfraquecer, semear a dúvida. Estamos despertando para a importância da parceria entre nós para amplificar nossa voz, a chamada sororidade. Sabemos que há feminismo(s).

Cada mulher tem uma história boa ou não com suas mães. Há mulheres que nunca tiveram mãe presente seja por morte ou seja porque a mãe foi embora de casa e foram criadas pelo pai, avós, tios, foram adotadas... Seu lado feminino pode ser potente e saudável, mas também pode ser adoecido por tantas histórias... 



Photo by Guang Yang on Unsplash

Há neste tempo também, o gradual reconhecimento da Humanidade da negação do feminino (o sentir, a flexibilidade etc) em sua dinâmica. O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, um dos  dissidentes de Freud refletiu em sua teoria sobre o masculino e feminino.

 Não há aqui a intenção de aprofundar conceitos sobre a psicologia analítica, abordagem criada pelo eminente psquiatra, mas é importante destacar que contrariando os cânones científicos da época, ele estudou profundamente sobre a dimensão espiritual do ser humano construindo com sua teoria, um instrumento de promoção de saúde psíquica. Além da psicanálise e da terapia cognitivo comportamental, as abordagens mais conhecidas, a psicologia possui vários teóricos e práticas de ajuda.

Entretanto, para o prosseguimento de nossas reflexões de modo a dar uma base para facilitar o entendimento do leitor, há quatro conceitos de Jung que não podem deixar de serem destacados, mesmo que superficialmente: inconsciente coletivo, arquétipo,  anima e animus.

 O inconsciente coletivo é um "arquivo" comum a todos os seres humanos e estas estruturas/símbolos presentes em todos os indivíduos, chamam-se arquétipos. São vivências como a experiência com a mãe, o surgimento do sol, encontros do homem com a mulher, a travessia de rios e mares etc que se relacionam indiretamente com nossas atitudes, nossos relacionamentos, postulado por Jung como um dos instrumentos de compreensão da nossa individualidade assim como da cultura em que estamos inseridos.

O anima e animus é o arquétipo do feminino e masculino respectivamente. Jung concebe estas estruturas como presentes em ambos os sexos ou seja, a mulher e o homem tem o lado masculino e feminino coexistindo no seu ser. Tais arquétipos, além de fazerem com que um sexo apresente características do outro, também motivam a cada sexo compreender o outro. 

A mulher como vivência da sua integridade e saúde, tem um lado masculino que representa o seu fazer no mundo, sua expressão, a sua postura ativa e tem seu lado feminino do sentir, da flexibilidade, da intuição. E o homem como vivência da sua integridade e saúde tem seu lado feminino que o permite falar sobre seus sentimentos, ser intuitivo e tem seu lado masculino do fazer, desbravar.

 Quando no parágrafo anterior foi falado de que a humanidade suprimiu de sua dinâmica o feminino, importa falar de que estas negações em forma do "tem que"  imposto ao homem e a mulher" sempre têm um preço e que ambos lados acabam sempre insatisfeitos.


Photo by Saksham Gangwar on Unsplash

Embora aplauda todos estes necessários movimentos afirmativos, espero que em algum momento deste processo evolutivo da Humanidade, possamos chegar a esta consciência de que embora sendo de um gênero é fundamental a vivência do gênero oposto que também habita a cada um de nós. 

Na minha opinião, não é um mundo mais feminino que será perfeito, mas um mundo onde o masculino e feminino se complementem com tanta naturalidade ao ponto de  ser tranquilo pensar que Deus pode também ser mulher. É um tempo de amadurecimento e todos aprendemos por acertos e erros a nos ajustarmos a esta nova realidade É um processo. É assim mesmo. E segue o baile.

Para os que desejarem maiores informações sobre a Psicologia Analítica, deixo o link da Sociedade brasileira de Psicologia Analítica. Além das faculdades de psicologia, as sociedades também costumam oferecer atendimento a preços mais acessíveis,, pois quanto têm cursos de formação, os aprendizes atendem e são supervisionados por profissionais.

Regina Bomfim 












Comentários

  1. Excelente texto.
    Bom saber da sua mãe 😍.
    Um mundo de predominância feminina ou masculina tb não me enche os olhos... Quero um mundo de compreensão, cuidado, compaixão e respeito mutuo. Caminho nesta direção. Bj

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    1. Obrigada! Gostei de ter escrito o texto, pois foi de fato um novo olhar sobre nossa relação

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    2. Obrigada! Gostei de ter escrito o texto, pois foi de fato um novo olhar sobre nossa relação

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