Há uma distância que não entendo, de uma vida que só tem o apelo da sobrevivência. Assim parece ter sido feita essa mulher que o corpo e a alma só pensa em trabalhar para cuidar da filha que criou sem pai e a vida é como - "matar um leão por dia" - a falta de tempo;
A vida é áspera como o chão sujo da faxina que a minha mãe precisa fazer pra me criar; não há nenhuma poesia nem harmonia na alma dessa mulher que o corpo é um pano que limpa o chão... não perde tempo por preocupação em nutrir e cuidar.
Sou filha desta mulher que me deu a vida e me sustenta. O corpo dessa mulher guerreira é forte, mas sem identidade porque é uma mente que nunca comtempla; é um corpo e uma mente que vivem em função do trabalho, para comer, vestir, tentar viver.
Sou filha desta mulher que me deixa sozinha e não me entende. Ela trabalha, luta, seu corpo dói, mas ela insiste. Eu a contemplo como alguém distante de mim porque meus pensamentos e buscas são tão abstratos pra ela e me sinto só. Quando tento falar algo mais de mim, ela grita, arregala os olhos e aí eu deixo pra lá. Eu sinto raiva dela e me culpo por isso.
É estranho, sei que ela vive pra mim, mas queria sentir calma na sua presença e poder abrir meu coração, falar dos meus temores... Sei que nisso há amor, mas não entendo.
Ps: Para as mulheres da periferia que criam seus filhos sozinhas.
Por Regina Bomfim