Transformar, resistir é um processo que exige "olhar de frente". Transformar, resistir à dor significa assumir que ela existe ao invés de dizer que ela não está presente. Assumir que a dor existe é meio caminho para superá-la.
Quando dizemos que a dor não está ali, optamos pela fuga - a fuga é uma transformação, uma capacidade de resistência "imaginária" que tem curta duração por não sobreviver ao teste de realidade das situações adversas diferentes ou semelhantes que aparecem. O engraçado é que a vida tem a capacidade de nos colocar em situações que mesmo tendo "cenários diferentes" se parecem entre si. É como o caso das mulheres que se dizem com "dedo podre" pra arranjar namorado, pois sempre aparecem uns "caras" que só estão por exemplo, interessados em sexo ou só o tipo "cafageste" que só quer se aproveitar do dinheiro. Quem nunca ouviu ou viveu uma situação onde a impressão que se tem é de andar em círculos?
Sair do sofrimento é uma habilidade a ser aprendida. E não é nada fácil. À medida que o indivíduo entender como "ele funciona", se sentirá capaz de abreviar cada vez mais sua permanência nesse lugar tenebroso, não porque é um herói, mas porque ao enfrentar e descobrir o seu ritmo de assimilação e enfrentamento da situação ganha uma resistência cada vez maior baseada não na fuga ou na "obrigação de ser perfeito", mas na capacidade constante de aprender sobre si mesmo usando e aprimorando seus recursos.
Assumir as limitações é aceitar-se humano, percebendo que só tem valor a alegria que é legítima, porque foi "lapidada" pela inteligência do indivíduo. A alegria artificial é filha do autoengano pois se apoia na fuga em suas mais diversas formas - do grau ameno (mentiras, racionalizações etc) ao grau mais complexo (álcool, drogas ilícitas, uso abusivo de psicofármacos...). A presença da psicologia se faz no momento em que o indivíduo percebe-se no momento, fragilizado para levar adiante esse processo sozinho.
Transformar, resistir à dor é um desafio que essencialmente exige de nós humildade, uma palavra tão carregada de valores religiosos, mas que apenas representa a capacidade de reconhecermos os nossos limites para usarmos adequadamente nossas forças e enfrentarmos as diferentes situações que a vida nos convida a superar.
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