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SOLIDÃO



SOLIDÃO

Solidão pode causar mais males à saúde que obesidade e tabagismo

Roberta Jansen

A solidão aquela sensação ruim de ser incompreendido, de não poder contar com ninguém, de estar só no mundo, pode causar mais males à saúde do que a obesidade e o tabagismo, tradicionalmente ligados a problemas cardíacos e cânceres, entre diversos outros problemas. Mas enquanto os dois últimos são fatores de risco muito bem estabelecidos do ponto de vista médico e aceitos pela sociedade, o isolamento social raramente é analisado num contexto mais amplo, como potencial detonador de doenças.

Uma nova linha de pesquisa, no entanto, coordenada pelo psicólogo JonhT. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago, sugere que somos muito mais interdependentes do que costumamos acreditar. Para Cacioppo, "a necessidade de vínculo social significativo, e a dor que sentimos sem ele, são características definitivas da nossa espécie", moldados por anos de evolução. Ou seja, o isolamento social involuntário é tão contrário a natureza humana que pode ter um impacto devastador sobre a saúde. Não só do ponto de vista psicológico, mas também físico.
- A solidão está relacionada ao mau funcionamento do sistema imunológico, ao aumento da pressão senguínea, à elevação dos níveis de hormônios do estresse, a um sono ruim, ao alcoolismo, ao uso de drogas e mesmo a alguns tipos de demência em pessoas mais velhas - afirma Cacioppo, em entrevistas a O GLOBO.
- Os indícios são tantos que a solidão já pode ser considerada um fator de risco para a saúde tão serio quanto a obesidade e o tabagismo.

O maior problema, segundo o cientista, é que a solidão é muito estigmatizada. Ainda mais que o hábito de fumar e o excesso de gordura.

- A solidão ainda é vista pela maioria das pessoas como uma defasagem pessoal ou uma fraqueza - diz o especialista - E, como há esse estigma, os afetados tendem a negá-la ou ignorá-la. Os que não sentem solidão, por sua vez, tendem a vê-la como um problema dos outros. Embora não seja necessariamente fácil perder peso ou parar de fumar, há tratamentos fundamentados cientificamente para ambas condições inteiramente aceitos pela comunidade médica e que se revelaram eficazes em milhões de casos. Mas a solidão no entanto, pouca gente sabe como tratar. Não se trata de uma doença propriamente, esclarece Cacioppo. Mas de uma condição intrínseca do ser humano como a sede e a fome.


No livro "Solidão - A natureza humana e a necessidade de vínculo social" (Ed.Record) escrito com o jornalista William Patrick, o cientista argumenta que o homem evoluiu para maximizar suas chances de sobrevivência por meio da colaboração social. "Como os primeiros  humanos tinham mais chance de sobreviver quando se mantinham juntos, a evolução reforçou a preferência por fortes laços, ao selecionar genes que favorecem o prazer da companhia e produzem inquietude quando se está involuntariamente desacompanhado."Em outras palavras, a necessidade humana de companhia está marcada em nossos genes. E por isso mesmo, é tão vital. Não por acaso, ele cita até hoje o maior castigo imposto no sistema carcerário é o isolamento na solitária.

A intensidade da dor do isolamento, no entanto, pode variar de pessoa para pessoa. O importante segundo Cacioppo, é encontrar um ambiente social adequado ao seu grau de sensibilidade. Cerca de 50% da capacidade de sentir solidão é hereditária, mas isso não significa que seja determinada pelos genes. Um percentual similar está relacionado a fatores ambientais. O que parece ser hereditário,no entanto é a intensidade da dor que cada um sente ao se ver socialmente isolado. Há pessoas mais sensíveis e outras menos suscetíveis - diz o cientista - O importante é estar num ambiente queesteja de acordo com sua predisposição de sentir a dor do isolamento social. Quem é especialmente sensível deve priorizar o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos de alta qualidade em nome de sua saúde e do bem-estar.

Pessoas muito sensíveis por acaso expostas a situações problemáticas como morte ou separação - podem ter problemas mais sérios. Um ciclo vicioso pode se instalar, alterando a percepção da pessoa e fazendo com que ela destorça as tentativas dos outros de incluí-las. As pessoas podem se tornar cada vez mais desconfiadas, pessimistas e isoladas. A depressão pode se instalar levando, até mesmo, a morte prematura.

- A depressão é uma síndrome, um conjunto de sintomas que inclui falta de prazer, falta de vontade de fazer coisas, falta de interesse pela vida, de alegria, muitas vezes acompanhado de tristeza, insônia, falta de apetite - explica a psiquiatra Nina Rosa Furtado, da PUC-RS.
- A solidão pode levar à depressão se perdurar por muito tempo ou pode ser causada por ela.

Por outro lado, argumenta o especialista, a dor provocada pela solidão é importante justamente para nos tirar do isolamento social, nos forçar a buscar companhia;
- Medicamentos não são a forma de resolver a sensação de solidão. Se você toma remédios para não sentir dor, por exemplo, você pode acabar se machucando sem sentir (os seus sensores de dor estão menos sensíveis por causa das drogas), provocando sérios danos a seu corpo -afirma Cacioppo. - Da mesma forma, se você tomar remédios para não sentir solidão, sérá menos capaz de perceber relações sociais frágeis e menos motivado a alterar tais conexões. Ou seja, você pode terminar drogado e sem apoio social de que precisa para sobreviver e prosperar. O cientista frisa que, justamente por ser parte tão fundamental da forma de o homem se relacionar, a sensação da solidão invariavelmente será sentida em algum ponto da vida. Isso não significa, no entanto,que a pessoa esteja cronicamente solitária - da mesma forma, sentir algum tipo de dor eventualmente não quer dizer que alguém sofra de dor. A solidão só é considerada crônica se perdura por meses ou anos.

A IMPORTÂNCIA DE FICAR SÓ - Isolamento pode ser voluntário e saudável

Num mundo cada vez mais repleto de estímulos, de pessoas estressadas, que trabalham cercadas de gente e imersas em barulho, estar só por alguns períodos pode ser muito positivo. Psicólogos e psicanalistas explicam que ficar só não significa estar sofrendo de solidão; muito pelo contrário. E da mesma forma, sofre pela sensação de isolamento pode ocorrer mesmo entre quem vive acompanhado.
- Estar só é algo que o sujeito escolhe para si, em condição de autonomia, buscar momento para estar sozinho, para ver televisão, para ler um livro, para não fazer nada - explica a psicanalista Mônica
Macedo da PUC-RS.

A psiquiatra Nina Rosa Furtado concorda com a colega:
- É quando você chega em casa, vê que não tem ninguém e aquilo te dá um alívio. É que você, na verdade, está acompanhada por dentro, repleta de objetos amorosos, de amigos, colegas, parentes - afirma - Isso é extremamente saudável, ficar consigo, curtir uma música.

Uma situação muito diferente da solidão.
- A solidão tem uma intensidade muito maior, é relacionada ao sentimento de não pertencer a um grupo, a uma sociedade, a um lugar. É uma experiência de desamparo, de sentir incapaz de estabelecer vínculos com outras pessoas e de desfrutar das coisas que estes vínculos trazem - Afirma Mônica.

Por outro lado é possível sentir solidão mesmo quando se está acompanhado.
- Pessoas que constituem família não são necessariamente mais felizes.
Assim como viúvas podem não viver na solidão. Uma das coisas mais importantes n desenvolvimento emocional é adquirir a capacidade de ficar só.

Fonte: Jornal O GLOBO

Comentários

  1. Oi:

    Interessante o blog!
    O encontrei ao procurar pela profissional NINA ROSA FURTADO... Ela é ótima mesmo.
    Sobre um comentário de que A SOLIDÃO SERIA PIOR QUE OBESIDADE E TABAGISMO - acho que tais podem estar relacionados; pois quando NÃO SE ESTÁ BEM TENDE-SE A COMER E FUMAR!
    Acho que o pior destes seria o TABAGISMO: além de incomodar outros que não tem nada a ver com o 'fumante ativo'...
    Também sou do Rio, só que resido no RS: onde assisto à entrevistas/programas com a Sra . Nina R. Furtado (até já troquei e-mails com ela!)...
    Viver bem/ter saúde: uma coisa até simples, todos deveriam ter - só que se encontra escassa muitas vezes!
    Boa sorte aí nos seus trabalhos/ensinamentos; tens uma das carreiras mais brilhantes que existem...

    Abraço,
    Rodrigo O. Rosa

    zip-mail@zipmail.com.br

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  2. Pois é Rodrigo, compulsões que podem ser motivadas pelo desejo de compensar algo. São os atalhos criamos... Só que isso acaba tendo um preço.
    Obrigada pela sua atenção
    Regina Bomfim

    ResponderExcluir
  3. Eu sou solitário, mto solitário. Mas não culpo as pessoas apenas, creio que eu tenha metade da culpa em ser solitário, pois sou mto sensível e acima de tudo, justo.
    Estou pagando o preço de ser uma pessoa correta e averso à hipocrisia, porém eu creio que é melhor ser um homem melhor solitário do que um homem pior com mtos amigos.
    Quais seriam os assuntos indispensáveis numa roda de amigos? Falar da vida dos outros, criticar pessoas, fofocar, isso td domina a maior parte das conversas!
    É uma imensa dificuldade para pessoas como eu poder interagir sem ser ferido e iludido, ainda mais numa época em que a integridade é desvalorizada e todos querem puxar o tapete.

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  4. Então você vê a solidão como necessária para enfrentar a hipocrisia?

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