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PSICOTRÓPICOS: PROPOSTA QUÍMICA PARA ESTADOS DE ÂNIMO INDESEJADOS (CONTINUAÇÃO 3)


PSICOTRÓPICOS: PROPOSTA QUÍMICA PARA ESTADOS DE ÂNIMO INDESEJADOS (CONTINUAÇÃO 3)
  • Falsas Tranquilidades e pseudo euforias
A idéia da pílula mágica vingou, considerada como caminho mais fácil para afastar a depressão ou a ansiedade, vencer a insônia ou o medo. Porém, apesar das cifras atingidas no mercado de psicotrópicos, cresce a crítica à banalização na indicação e no consumo desses medicamentos.
Os que sustentam esta crítica questionam a ênfase dada à bioquímica cerebral na consideração dos problemas mentais, e entendem que os fatores psicológicos, com base familiar e social tendem a ser desprezados ou minimizados. Embora não discordem de que as desordens psíquicas tenham uma interface com a biologia, compreendem que outros aspectos estão presentes nas alterações mentais. Neste sentido as explicações biológicas, fundamentais nas neurociências e o uso exclusivo de medicamentos não são suficientes e em muitos casos, sequer são abordagens mais adequadas diante do problema.
A psicologia e a sociologia, entre outros campos do conhecimento, também têm contribuições a oferecer no enfrentamento de transtornos psíquicos. Afinal tais transtornos guardam relação com o sofrimento humano; a abordagem biológica estrita deste sofrimento tende a reduzi-la a fatores genéticos e bioquímicos. Com isto estamos desaprendendo a encarar o sofrimento com algo natural da vida humana que nos desafia, enquanto indivíduos e coletividades, a repensar nossos modos de viver e de interagir com o meio ambiente social. A negação da dor e do sofrimento através de pílulas mágicas produz falsas tranquilidades e pseudo-euforias, uma vez que artificiais, incapazes de alcançar as origens do problema, aquelas que devem de fato ser trabalhadas e transformadas. O consumo indevido de psicotrópicos produz, ao invés de um equilíbrio emocional, uma máscara química para a alma.
Ainda seguindo esta linha de argumentação, os psicotrópicos atuam como paliativos químicos que não ajudam o doente a conhecer ou elaborar as causas de sua depressão ou ansiedade, por exemplo. Como as causas não são elaboradas, tende-se a estabelecer uma relação de dependência do enfermo com os medicamentos. Apenas em casos específicos se justificaria o emprego destas substâncias e, ainda assim, de maneira decrescente tendendo a ser eliminado na medida em que o paciente consegue atingir um nível mínimo de reintegração ao cotidiano.
O emprego de psicotrópicos, embora capaz de resolver o surto, nos casos mais graves, pode ser acompanhado de outros procedimentos, como a psicoterapia, que possibilita melhor compreensão do que se passa com o doente. Afinal, tão importante quanto investir para que as pessoas saiam da depressão, é possibilitar que saibam o motivo pelo qual entraram naquele estado, que tomem conhecimento de quais fatores podem desencadear crises, sobretudo para evitar que essas crises se repitam. A psicoterapia teria um papel a desempenhar no processo de autoconhecimento das vítimas dos transtornos psíquicos, auxiliando-as a modificarem estas estruturas básicas da personalidade, tornando-se menos vulneráveis as crises.             
       
A visão científica e tecnológica, assim como a perspectiva de mercado tende a não considerar, ou considerar insuficientemente, os aspectos da existência humana menos possível de serem traduzidos em números cifras, pesos ou medidas. As emoções, a intuição e a espiritualidade são exemplos de aspectos que estão presentes na vivência humana, embora sejam menos permeáveis à racionalização e à experimentação científica. São elementos que caracterizam a
Natureza, além do ponto em que ela se submete à manipulação matemática. A existência abriga múltiplas qualidades e é justamente esta pluralidade, até certo ponto irredutível que a torna complexa. A construção de uma estrutura racional capaz de considerar os múltiplos aspectos da natureza humana se apresenta, assim, como um grande desafio para a cosmologia humana.

 Fonte: Vitaminas, analgésicos, antibióticos e psicotrópicos - Vantagens e perigos do uso de medicamentos  da indústria farmacêutica mais consumidos no Brasil - Marilene Cabral do Nascimento Ed Vieira e Lent/ RJ 2003.

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