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PSICOTRÓPICOS: PROPOSTA QUÍMICA PARA ESTADOS DE ÂNIMO INDESEJADOS (CONTINUAÇÃO 4)

PSICOTRÓPICOS: PROPOSTA QUÍMICA PARA ESTADOS DE ÂNIMO INDESEJADOS (CONTINUAÇÃO 4)
  • Riscos e efeitos colaterais: A dependência química ou psicológica
Em se tratando de tranquilizantes, quando o consumo se dá de forma repetida e prolongada, o organismo tende a metabolizar estes medicamentos cada vez mais rapidamente, demandando doses crescentes para atingir o estado desejado. O processo é o mesmo observado com a maior parte das drogas ilícitas e relaciona-se à dependência química. Dependendo da dose de tranquilizantes, a dependência pode acontecer após algumas semanas de uso. - Muitos usuários de tranquilizantes se tornam dependentes e não conseguem suspender o seu uso. A síndrome de abstinência provocada pela interrupção abrupta do consumo desses medicamentos inclui insônia, tremores, dores musculares, suores, náuseas, falta de apetite, sensação de ansiedade, taquicardia e até convulsões. Em alguns casos a suspensão do fármaco pode exigir hospitalização. A declaração abaixo extraída da reportagem do Jornal  O Globo ilustra um caso de dependência de tranquilizantes:

A advogada L. D, 30 anos, vivia sob estresse crônicos, com irritabilidade constante (...).Começou com meio comprimido em momentos de tensão. Depois passou a doses maiores e mais frequentes. Até chegar a dois comprimidos diários, um para o trabalho; outro para dormir. Hoje não vive sem comprimidos (...). “Estou tentando me livvrar da dependência, mas sofro com as crises de abstinência”. – Conta L. D. (O Globo, 6 abr, 1997).

As pessoas dependentes de tranquilizantes tendem a ficar entorpecidas, com diminuição dos reflexos e da velocidade de reação a estímulos em geral. Exibem falta de atenção, dificuldade de coordenação, disfunção sexual, distúrbios de memória e não conseguem trabalhar direito. São muito mais expostos a acidentes ao dirigir veículos ou trabalhar com máquinas pesadas. Com o uso prolongado, a ansiedade e a insônia podem aumentar ao invés de diminuir. Alguns consumidores destes medicamentos têm reações hostis, às vezes violentas; outros entram em profunda depressão e buscam até mesmo o suicídio. Há ainda riscos de problemas vasculares e hematológicos de pessoas que fazem uso de tranquilizantes, em especial em casos em que a droga é combinada com a bebida alcoólica. Juntos, tranquilizantes e álcool provocam sedação excessiva, desordem psicomotora, diminuição de reflexos e, em alguns casos, depressão respiratória. O resultado da combinação pode ser fatal. Também não são poucos os registros de suicídios cometidos por pessoas sob ação de tranquilizantes e álcool. Outro efeito conhecido desta interação é o que vem se convencionando chamar de “lacuna de memória”: A pessoa realiza atos automáticos durante um determinado período, sem que se lembre depois do ocorrido.

Os riscos associados aos tranquilizantes não afetam a todos os consumidores indistintamente. Indivíduos com mais de 65 anos são os mais suscetíveis aos efeitos destes fármacos, mesmo se o consumirem em baixa dosagem. Entre os idosos, a combinação de tranquilizantes e outros medicamentos como antidepressivos, anticonvulsionantes ou analgésicos é especialmente perigoso. O uso de tranquilizantes por mulheres grávidas pode causar má formação dos fetos – os antidepressivos por sua vez, não provocam dependência física, mas também são perigosos. Entre os seus efeitos colaterais mais comuns estão náuseas, dores de cabeça, tontura, alterações do sono, secura na boca e demora para ejacular. Além disso, eles expõem os consumidores a aumento de peso, hipertensão ou hipotensão arterial, alterações da próstata, distúrbio de tireoide e tendência à agressividade. De acordo com o tipo de antidepressivo, podem ocorrer ainda danos ao fígado, convulsões, infarto ou derrame. Disfunções sexuais de grau variado acometem 30 a 45% de seus usuários, motivo frequente de interrupção do tratamento com esse medicamento.

Uma grave acusação que pesa sobre os antidepressivos é a sua associação a tentativas de suicídio. Há vários registros de suicídio, homicídio e agressões a terceiros cometidos por pacientes que utilizam esses medicamentos. Não deixa de provocar perplexidades o fato de que um remédio indicado para tratamento de uma moléstia psíquica que envolve perigo de suicídio, acabe por aumentar este risco em alguns pacientes – o Prozac, símbolo de felicidade química, disponível no mercado brasileiro desde 1988 está associado à cerca de 50 tipos de efeitos colaterais. Nos EUA já foi criada uma associação de vítimas do Prozac, devido a um grande número de problemas desencadeados pelos efeitos deste medicamento. O paciente, não raro sequer é advertido das possíveis consequências envolvidas, de modo a ter o direito de escolha entre manter a doença que o motivou a procurar o médico ou ingressar no perigoso terreno de riscos de adquirir outras tantas.

Durante a infância, dependendo da idade dos pequenos usuários de antidepressivos, pode ocorrer uma interferência na maturação do cérebro. Ainda não se avaliaram suficientemente os danos potenciais provocados por esses medicamentos ao sistema nervoso e cardiológico da criança.

No passado recente, as pessoas, em geral, não estavam acostumadas à ideia de que os medicamentos, mesmo aqueles receitados por médicos, podem envolver tanto benefícios quanto riscos. Acreditava-se que o seu consumo seria necessariamente um instrumento em favor da saúde. Atualmente há uma atenção maior aos efeitos indesejados, e vários fármacos são retirados do mercado por conta destes riscos desconhecidos ou pouco conhecidos no momento do lançamento, mas revelados no decorrer do tempo, com o uso prolongado. No lugar destes fármacos entram outros, cujos componentes são modificados ou substituídos, levando-se em conta os danos provocados pela fórmula inicial. O mesmo processo, entretanto muitas vezes se repete com as novas fórmulas, levando a indústria a lançamentos sucessivos contra os mesmos sintomas.
Fonte:Marilene Cabral do Nascimento – Vitaminas, analgésicos, antibióticos e psicotrópicos: vantagens e perigos de uso de produtos da indústria farmacêutica mais consumidos no Brasil /Edt Vieira e Lent Rio de Janeiro 2003

 

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