- Quem consome
A pesquisadora Brani Rosemberg, da Escola Nacional de
Saúde Publica encontrou em 1992, um quadro assustador de consumo de
tranquilizantes e antidepressivos entre trabalhadores agrícolas e pequenos
produtores rurais, na pequena Conceição do Castelo cidade com cerca de 11.500
habitantes, localizada na região serrana do espírito Santo. Grande parte da
população adulta diz sofre dos nervos, apresentava um diagnóstico desse tipo de
doença e usava medicamentos psicotrópicos. A maioria composta de pequenos
produtores rurais, via-se sem perspectivas na lavoura; estavam endividados, e
muitos tinham que vender bens e colheitas antecipadas para pagar os juros.
Desta forma, não seria difícil entender porque causava sintomas como insônia
angústia e cansaço. Trata-se de um exemplo típico de medicalização de problemas
sociais, que pode refletir o que acontece em outras regiões interioranas do
país, freqüentemente julgadas a salvo de sobressaltos mentais, estresse e,
principalmente, de medicação química. O que dizer da situação das grandes
cidades?
Os psiquiatras S.
e J.R. preferem denunciar o que consideram mascaramento de problemas
sociais e econômicos, com paliativos químicos. “Temos que parar para ver o que
está acontecendo com essa população desnutrida que gasta dinheiro para sedar-se
(...). S e a questão é política deve ser resolvida politicamente e não
medicalizando-se a sociedade (Jornal do Brasil, 26 mar. 1986).
Entre a população jovem de ambos
sexos cresce o número de adeptos de psicotrópicos em busca de excitação ou do
entorpecimento. Não raro são poliusuários e costumam incluir álcool em seus
perigosos coquetéis. Utilizam drogas socialmente aceitas, mas fáceis e baratas
de serem adquiridas. Depois da espantosa incidência do álcool e do cigarro na juventude,
segue a farmacopéia dos tranqulizantes. São as chamadas drogas lícitas, cujo
consumo se expande em todas as classes sociais.
Cada vez mais crianças são
tratadas com antidepressivos. Para alguns, esse medicamento só seria indicado
quando o esforço familiar, o apoio da escola e a psicoterapia não auxiliam a
criança a melhorar. Observa-se, entretanto, uma tendência excessiva no
diagnóstico de distúrbios psíquicos nesta faixa etária, recorrendo aos
psicotrópicos, muitas vezes, sem que se considere suficientemente o fator
psicológico e familiar. Em alguns casos, professores e pais pressionam os
médicos a receitar um psicotrópicos, sem ter certeza de que a criança realmente
precisa da droga. Vários médicos consideram que o medicamento está sendo ministrado
para manter crianças em camisas – de- força químicas.
Diante do mercado adulto com
sinais de saturação, os fabricantes estariam se voltando para jovens e
crianças, com a cumplicidade de alguns psiquiatras. A presidente da Sociedade
de Psiquiatria do Rio de Janeiro Dra. Maria Tereza Costa, pergunta: “estão
nossas crianças precisando mesmo de tanto antidepressivo, ou o que nos faltaria
não seria a reflexão sobre nossas próprias condições e estilo de vida que impõem
a elas um viver indesejado, afastado de seus direitos mais essenciais de
prazer, felicidade e proteção na infância e na juventude?”.
A maioria dos consumidores de
calmantes e soníferos é segundo as reportagens, do sexo feminino na faixa dos
30 a 40 anos. A insônia afetaria bem mais as mulheres que os homens.
Fonte: Marilene Cabral do Nascimento – Vitaminas,
analgésicos, antibióticos e psicotrópicos: vantagens e perigos de uso de
produtos da indústria farmacêutica mais consumidos no Brasil /Edt Vieira e Lent
Rio de Janeiro 2003
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