Cresce o número de empresas que investem na capacitação de seus funcionários
Por Felipe Sil
Fonte: Jornal O Globo - Caderno Boa Chance (05/2011)
No início do mês, Marcus Vinícius Freire, superintendente-executivo de Esportes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), começou a procurar profissionais capacitados para ocupar 12 vagas no orgão - em sua maioria, para cargos de gerência. Até sexta passada, só conseguira contratar duas pessoas, em mais de um exemplo do quanto está diifícil hoje encontrar pessoal devidamente qualificado no mercado de trabalho. A saída? Há vários casos de organizações - tanto empresas privadas e públicas como ONGs - que agora investem na formação de seus profissionais. Algumas contratam gente que ainda vai se formar para depois, investir em sua capacitação.
No caso do COB, foi criado o Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), justamente para qualificar melhor profissioansi nas áreas que atendem a seus objetivos. Mais especificamente, o orgão qualifica gestores administrativos e treinadores , além de ajudar ex-atletas a fazerem transição para o mercado de trabalho. Só que a formação demanda tempo, e o comitê precisa de pessoal já. Para Freire, o crescimento do país gerou demanda por setores não aquecidos da economia, abrindo um fosso em relação à oferta de mão de obra e criando despesas extras nas organizações:
- com a conquista de grandes eventos, surgiu uma demanda que o mercado não consegue suprir. Até produz muitos profissionais, mas poucos suficientemente preparados para assumir posições importantes.
A construtora RJZ Cyrela é ainda mais radical pois oferece formação própria para todos os níveis de profissionais desde operacional de obra (carpinteiros, serventes e encarregados) até diretoria. São capcitados na Academia Cyrela. Núcleos de treinamento estão presentes nas obras, com lições no dia a dia.
ENGENHEIRO DESDE O PRIMEIRO ANO
- Há menos de uma década ouvíamos falar que engenheiro civil se formava e virava taxista. Hoje estamos buscando estes profissionais dentro da universidade desde o primeiro período do curso. Capacitando os trabalhadores estamos apostando em melhores resultados da companhia - diz o vice-presidente Rogério Zylbersztajn.
Já a Ampla investiu, só em 2010, R$ 6 milhões em capacitação e desenvolvimemto. Ao todo foram 60.887 horas de treinamento. A empresa coloca foco na formação de gerência e lideranças médias. Entre alguns cursos, estão técnicas de negociação e gestão de negócios. Diretor de Recursos humanos da Ampla, Carlos Evandro lembra que um dis efeitos colaterais da capacitação do funcionário é o risco de perdê-lo para outras organizações, que podem contratá-lo para uma posição maior. Mas, diz, isso faz parte do jogo:
- E acaba nos deixando até orgulhosos. Trabalhamos desta forma, pois o nosso negócio é muito complexo, e é importante enriquecer a formação dos nossos funcionários não só desenvolvendo capacitações técnicas, como comportamentais.
A rede de hotéis Accor, por sua vez - presente em oito países e com cerca de 160 hotéis - promove o International Hospitality Management Programme (IHMP). Trata-se de uma parceria com a Essec Business School, de Paris, que visa capacitar profissionais de nível gerencial. O programa é anual. A disputa por uma vaga, porém é acirrada.
São selecionados 32 trabalhadores de todas as marcas da rede espalhadas pelo mundo. Ana Maria Santos gerente de Operações do Sofitel Guarujá Jequitimar, concluiu o curso em março:
- A experiência foi extremamente enriquecedora. Quando se tem um profissional competente dentro da empresa, é muito importante que se invista nele. O funcionário sente o reconhecimento e fica com vontade de seguir sempre em frente.
Para o gerente de Desenvovimento de Liderança da Natura Marcelo Madarász, a capacitação fos funcionários ajuda a alinhar suas idéias à essência da empresa. A companhia tem um projeto de formação de lideranças, chamado Cosmos. O conteúdo do programa explora situações do cotidiano, indicadores e modelos usados na organização, para ajudar e dar conhecimentos prioritários sobre o papel assumido pelo gestor na sua posição e nas subsequentes.
INVESTIMENTO ESTRATÉGICO
- Acreditamos que os bons resultados dependem desta colaboração. Em 2010, 62% das vagas de liderança disponíveis foram ocupadas internamente- conta Madarász.
O Cosmos é novo. Nos últimos anos, no entanto, a companhia tem investido na qualificação de todos os níveis da empresa, inclusive no técnico. Cursos como o de segurança no trabalho são ministrados na sede.
_ Com a capacitação, fortalecemos competências para a empresa - diz Denise Asnis, gerente do Escritório de Liderança da Natura.
Em 2010, até o mês de ooutubro, a consultoria Aon Corporation investiu 17 mil horas de aulas para todos os seus funcionários. A Academia do Talento, dentro da empresa, tem o objetivo de fazer com que cada trabalhador desenvolva suas competências e atenda suas expectativas. Professores de instituições de ensino como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Fundação Armando Álvares Penteado são convidados para ajjudar na formação.
- Estamos enfrentado os mesmos problemas de todas as empresas: dificuldades na retenção de pssoas, disputas salariais mais acirradas e falta de profissionais capacitados tecnicamente. Com o aquecimento da economia após um longo período de estagnação, era natural enfrentássemos este cenário. Mais uma vez a inciativa privada tem que assumir seu papel na sustentação da sociedade - diz Ágatha Alves, gerente de Recursos Humanos da Aon.
INSTITUIÇÕES DE ENSINO VÃO ÁS EMPRESAS
Centros de formação produzem cursos especializados para companhias, através de parcerias e convênios
Para direcionar a qualificação de acordo com as necessidades, as instituições de ensino oferecem convênios a empresas privadas e orgões públicos. O Centro Universitário Carioca (UniCarioca), por exemplo, já realizou parcerias com o MInistério da Fazenda, a prefeitura do Rio e a CVC Viagens.
- O problema da mão de obra é qualitativo e não quantitativo. É preciso qualificar a existente, e o primeiro passo é fazer uma diagnóstico das carências destas pessoas. É importante dar a elas o que precisam e o mercado exige - diz Ricardo Pacheco, diretor de Marketing da faculdade.
O Centro Técnico Científico da PUC-Rio também realiza parceria junto a empresas como Petrobrás, Eletronuclear, Queiroz Galvão e Chevron. Os cursos são voltados para áreas como logística e gestão de equipamentos.
ÁREA DE TECNOLOGIA É QUASE UM SINÔNIMO DE ESCASSEZ
A empresa de consultoria Plugar, por sua vez, realiza convênios com os clientes, como Shell, Bradesco e Carrefour, para capacitar funcionários em gestão de informações tecnológicas. A Telemart, fornecedora de soluções de comunicação integrada para empresas, planeja investir R$ 100 mil em qualificação este ano. a empresa aposta em certificações no exterior para seus funcionários através de parcerias com fabricantes mundiais.
- No mercado de tecnologia, a escassez de mão de obra especializada é um grande desafio. Em muitos casos, contratamos profissionais sem a qualificação necessária e investimos nele. Aí, surge outro problema: retê-lo na empresa - desabafa Adriana Lima, diretora executiva daTelmart.
O GMX Brasil, curso preparatório para concursos, não só ensina centenas de alunos, como também investe na formação dos próprios funcionários. todos têm direito à pós- graduação, além de cursinhho preparatório para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
No mês de abrill, a seguradora americana MetLife formou sua primeira turma de MBA in company, em parceria com o Ibmec. A empresa, que investiu R$ 200 mil no projeto, convocou 40 executivos em cargos de liderança para participar do curso com duração de 15 meses. Este ano, a companhia investirá R$ 1 milhão em treinamento para funcionários.
- Há falta de mão de obra mesmo no setor. A abertura do nosso mercado, em 2007, forçou uma demanda de seguros até então inexistente. O crescimento econômico também contribuiu para essa atuação - analisa Jair Pianucci, diretor de RH da MetLife.
Já a Brunoro Sport Businee (BSB), de gestão de negócios do esporte, tem uma parceria com a Trevisan Escola de Negócios do curso de MBA "Gestão e marketing esportivo". Boa parte dos funcionários tem o direito de realizá-lo com bolsas que variam de 50% a 100%, nas filiais do Rio e em São Paulo. A Capemisa Seguradora de Vida e Previdência, por sua vez reserva, anualmente, verba a ser usada em treinamentos por meio de levantamento sobre as necessidades das áreas internas.
A dificuldade em encontrar mão de obra qualificada não é apenas relacionada ao ensino superior. Descobrir profissionais competentes no nível técnico também não é fácil. Em parceria com a Sesi, a Granfino, indústria alimentícia com sede em Nova Iguaçu, oferece o programa Classe Anexa, de ediucação profissional. A empresa disponibiliza educação que vai da alfabetização ao terceiro ano do ensino médio.
INDÚSTRIA VAI CUSTOMIZAR PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO
Já a Fabrimar, localizada na Pavuna e que fabrica metais para banheiros e cozinhas, pretende começar, no segundo semestre, um programa de capacitação customizado para seus funcionários. Nada menos que 80% do seu quadro está na área de produção e técnica. Em Altamira, no Pará, o Consórcio Construtor de Belo Monte instalou o Programa Capacitar para Crescer, que tem o objetivo de formar tecnicamente os trabalhadores regionais que são contratados