RELATÓRIO EUROPEU PROPÕE LIMITES PARA O USO DE DROGAS COGNITIVAS
Por Flávia Milhorance
Fonte: Jornal O Globo – Ciência
A necessidade de se regular o uso de certas drogas e tecnologias que melhoram o desempenho do indivíduo foi tema de alerta de instituições europeias, que lançaram ontem o relatório "Aprimoramento humano e futuro do trabalho". Assinado pela Royal Society, assim como pelas academias britânicas de medicina e engenharia, o documento destaca o uso indiscriminado, por exemplo, das chamadas drogas cognitivas, que aumentam a memória e a atenção. Remédios caros, acessíveis a poucos, mas usados cada vez com maior frequência por uma parcela de estudantes por uma parcela de estudantes antes de concursos, principalmente nos EUA, eles levam à discussão sobre os limites éticos do "doping do cérebro".
Segundo o relatório europeu, remédios desenvolvidos para tratar transtornos psicológicos, como o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e a narcolepsia, têm sido utilizados por pessoas saudáveis com o objetivo de melhorar o desempenho em determinada atividade. Alguns exemplos citados no documento foram os compostos Alderrall, Modafinil e Ritalina, os dois últimos comercializados no Brasil. Eles acreditam que fórmulas ara pacientes de Alzheimer ou esquizofrenia também serão usadas para aumentar as funções cognitivas.
- Elas podem influenciar nossa capacidade de aprender e realizar tarefas, aumentar nossa motivação, nos permitir trabalhar mais, em condições extremas e até na velhice - explicou ao jornal britânico "The Guardian" Genevra Richardson, professora do King´s College de Londres e representante do comitê responsável pelo relatório, que ainda propôs a discussão:
- Apesar de as tecnologias de aprimoramento humano garantirem benefícios à sociedade, seu uso no trabalho levanta questões de ordem, ética, política e econômica, que merecem ampla consideração. Elas incluem como o público enxerga estas tecnologias, quais são as suas consequências a longo prazo para o indivíduo e quem paga por isso. Se são os próprios indivíduos que pagam, então isto tornaria os ricos mais inteligentes.
- Este ainda não é um problema tão sério como nos Estados Unidos e na Europa, mas com certeza vai ser. Isto vai acontecer à medida que houver maior disponibilização das drogas, que logo poderão chegar ao mercado negro - aponta César de Sá. - É uma discussão ética e moral se a sociedade vai aceitar esse comportamento. Eu acho errado. A partir disso, veríamos como seria a regulação: não poderia haver venda livre e estar disponível como qualquer outra droga. Além disso, o mercado paralelo deveria ser fortemente reprimido.
O especialista afirma ainda que poucos estudos foram realizados para apontar quais os riscos dessas drogas para a saúde:
- Ninguém sabe ainda quais são os seus efeitos em uso prolongado e quais suas consequências no cérebro de pessoas que as utilizam para fins diferentes dos prescritos. Que há dependência química, isto sem dúvida, como qualquer outra droga que melhora a performance.
Presidente da Sociedade de Bioética do Estado do Rio e pesquisador da Fiocruz, Sérgio Rego compara a prática com o doping no esporte:
- Seria ético fazer doping ara aumentar a performance intelectual? Acho que não - comentou Rego. - Uma sociedade competitiva como a nossa já tem essa cultura de aprimoramento humano e aumento de desempenho enraizada. Isso vai desde o uso de um simples óculos para melhorar a visão ao doping por atletas. Então não é de se estranhar o uso desse recurso das drogas cognitivas. Mas além da discussão ética, há a questão da saúde: antes as drogas que prometiam melhorar a atenção, como o ginkgo biloba, não eram tão nocivas. Agora o terreno é muito mais perigoso
SERVIÇO
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Ritalina
Produto indicado no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). É um estimulante do sistema nervoso central.
Modafinil(a)
Composto recomendado para melhorar sintomas da narcolepsia, distúrbio que gera excessiva sonolência durante o dia. É um estimulante não anfetamínico que promove o estado de vigília.
Aderral
É um psicoestimulante composto de sais de anfetamina; não é vendido no Brasil e em outros locais tem venda controlada pelo risco de abuso e vício.