Fonte: Boa Chance
O publicitário e escritor André Timm decidiu radicalizar; há pouco mais de um ano, adotou a máquina de escrever para produzir seus textos literários. Isso porque, conta ele, não conseguia resistir a tentação de checar seus e-mails, espiar as redes sociais e, principalmente, pesquisar na internet. Timm não está sozinho. De acordo com o autor suíço Piers Steel, 95% das pessoas têm o hábito de procrastinar – ou seja, "deixar para outro dia ou para um tempo futuro, por motivos repreensíveis", conforme define o dicionário. E existem dois tipos de procrastinadores: os crônicos que representam 20%, e os eventuais, segundo um estudo da DePaul University, de Chicago. No trabalho a prática é agravada pelas inúmeras distrações trazidas pela internet.
- A procrastinação é uma coisa natural do ser humano, que acontece quando alguém aperta o botão "soneca" do despertador ou adia a vontade de ir ao banheiro, por exemplo. O problema é quando esse modelo mental se torna prejudicial – diz Christian Barbosa, autor do livro "60 estratégias práticas para ganhar mais tempo" e "Equilíbrio e resultado" (Ed. Sextante), no qual investiga alguns dos principais motivos que levam as pessoas a não fazer o que deveriam – hoje em da, com a internet, procrastinar se tornou muito mais fácil.
NÃO PODEMOS FALAR EM UM PERFIL UNIVERSAL
No caso de André Timm, a máquina de escrever é usada para produzir ficção e literatura. No seu dia a dia como redator em uma agência de propaganda, ele usa o computador.- Ter prazos definidos e rígidos e um equipe que depende de você também tornam mais difícil procrastinar no trabalho – explica Timm que admite sua "inabilidade para gerenciar o tempo" e que se atrapalha, principalmente com a pesquisa. – É muito tentador ficar pesquisando na internet, ou lendo livros e filmes sobre um assunto, quando você vê, já passou uma manhã inteira e não produziu nada. Com a máquina de escrever não tem isso.
O procrastinador-pesquisador – perfil com o que Timm diz se identificar – é um dos doze tipos listados pelo site americano Mashable, que fez uma lista cômica que inclui ainda, aquele que faz listas, o que entra em pânico, o que precisa sempre fazer um lanchinho, o que posta e compartilha tudo nas redes sociais, o que delega tarefas e cava sem fazer nada, aquele que é fã dos jogos on-line e o que deixa tudo para o dia seguinte.
- Mas não podemos falar em um perfil que é universal. Até porque cada pessoa estuda ou trabalha de um jeito. É possível encontrar procrastinadores com esses perfis, mas pode haver quem procrastine fazendo artesanato ou praticando esportes – ressalta Rita Karina Sampaio, psicóloga e mestre em educação pa Unicamp e autora do estudo "Procrastinação acadêmica".
SEM RELAÇÃO COM INSATISFAÇÃO NO EMPREGO
De acordo com a pesquisa feita por Christian Barbosa, que ouviu 3.102 pessoas em 22 estado brasileiros, 26% dos entrevistados procrastinam em coisas pessoais, 13% em atividades profissionais e 61% nos dois tipos de eventos.- Outro estudo que fiz mostrou que 80% dos profissionais passam de 30 min a três horas por dia enrolando no horário do expediente. O adiamento acontece pela busca pelo prazer imediato – destaca Barbosa, que diz não haver necessariamente, relação entre a procrastinação e a insatisfação com o emprego.
APLICATIVOS E TÉCNICAS AJUDAM A MANTER O FOCO
Chefes podem orientar profissionais sobre como traçarem metas
Os problemas da procrastinação afeta tanto profissionais que, hoje, já existem aplicativos e ferramentas de autocensura, que bloqueiam o acesso a sites. O Freedom, por exemplo, é usado por escritores como Nick Hornby e Meg Cabot e, por US$ 10, permite que o usuário decida quantos minutos de acesso a internet que ter por dia. Outros como Self Control, Cold Turkey e Keep me Out funcionam de maneira semelhante.
- Nem todo procrastinador tem problemas de gerenciamento de tempo, então é importante tomar consciência de deu processo de procrastinação. Se a internet distrai, então desligá-la pode funcionar – diz Rita Karina Sampaio, psicóloga e mestre em educação pela Unicamp e autora do estudo "Procrastinação acadêmica".
O escritor André Timm já tentou usar ferramentas como o Freedom, mas não se entendeu bem com elas.
-Experimentei vários deles e, na teoria, funcionam muito bem. Mas na prática, basta sair e desligar o aplicativo para que sua utilidade vá por água abaixo – afirma Timm.
Além da máquina de escrever, o escritor é adepto também da técnica Pomodoro, um método de gerenciamento de tempo surgido nos anos 80 que consiste em dividir o trabalho em períodos de 25 min e, a cada etapa, fazer uma pausa de cinco minutos.
- É bem produtivo. Uso em momentos de tarefas maiores e com prazos críticos – relata.
Christian Barbosa, autor de "60 estratégias práticas para ganhar mais tempo" e Equilíbrio e resultado" concorda que dividir o tempo e "quebrar" as atividades em tarefas menores pode ajudar a minimizar a procrastinação.
- Mas é importante lembrar que não existe uma única saída que funciona igual para todos – diz Barbosa, que acha também que, nas empresas, os chefes têm papel fundamental no direcionamento dos profissionais procrastinadores. – O problema é que líderes não estão preparados para lidar com isso. Para que possam fazê-lo, têm que estar mais presentes.
LÍDERES DEVEM ESTAR ATENTOS
- O líder deve identificar o que cada profissional valoriza mais para saber como motivá-lo e como traçar metas, de médio a longo prazos, inspiradoras.
O problema, pondera Irene Azevedo, diretora de negócios da consultoria LHH/DBM, é que hoje está todo mundo sobrecarregado.
- Inclusive o líder, que não dedica muito tempo para conhecer o liderado. E, embora a procrastinação possa ser facilitada em setores como os de serviços e os que envolvem produção criativa, hoje ela pode ocorrer em qualquer área de atuação, dizem os especialistas.
- Hoje em dia, não há um segmento em que a pessoa não tenha que lidar com um nível de urgência alto – afirma Alexia Franco, sócia-fundadora da consultoria executiva Unique Group, que diz, ainda, que as empresas precisam ficar atentas a esse tipo de comportamento também por parte do líder. – Um chefe que demora muito a tomar a decisão sobre quem vai promover, fica pesquisando e sondando colegas para decidir, pode acabar prejudicando um funcionário e a organização.
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