Número de registros cresceu 123,9% entre 2002 e 2012
Por Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo
A mancha roxa em torno dos olhos contrasta com a pele alva e vincada pelo tempo de Emília, de 82 anos. Viúva, mãe de três filhos e avó de nove adolescentes , ela teve o rosto marcado por um soco desferido por um dos netos dependente de drogas. A agressão sofrida pela aposentada em meados de 2012 evidenciava uma triste realidade. Naquele ano 60.004 pessoas com mais de 60 anos recorreram às delegacias para denunciar algum tipo de violência vivenciada em casa ou na rua. Significa dizer que, a cada sete minutos, um idoso foi agredido ou desrespeitado no estado.
Os números alarmantes integram o "Dossiê pessoa idosa 2013" divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), que faz um balaço entre os anos de 2002 e 2012. O relatório transforma em dados estatísticos o drama vivido ao longo de uma década por idosos como Emília, que chegou a relutar em recorrer à polícia após ser agredida pelo neto caçula, de 14 anos. O documento revela uma tendência de aumento de pessoas de terceira idade. Em dez anos, a quantidade de registros computados cresceu 123,9%, pulando de 29.476, em 2002 para 66.004, em 2012.
Crueldade que salta aos olhos quando se verifica que 180 idosos sofreram algum tipo de violência a cada dia de 2012. Na comparação com o ano anterior quando foram, quando foram computados 61.353, o aumento de registros foi de 7,6%. a análise do dossiê mostra contudo, que o crime mais praticado contra a pessoa idosa da terceira idade foi o estelionato, que representa 24,6% dos casos contabilizados.
O promotor Alexandre Murilo Graça, que acompanha as investigações da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade, acredita que o golpe mais praticado contra os idosos é o do falso sequestro, quando bandidos telefonam dizendo que um parenta da vítima está em cativeiro.
- Nesses casos, a pessoa da terceira idade acaba pagando o resgate ao falso sequestrador, sem tentar entrar em contato com a suposta vítima - diz.
VÍTIMAS SENTEM VERGONHA
Já o furto de dinheiro de contas bancárias é um pouco mais sofisticado. Alguns grupos chegam a usar microcâmeras para filmar o idoso enquanto ele faz um saque num caixa eletrônico.
- Nesse tipo de golpe, é comum que uma mulher se aproxime do idoso, que geralmente tem dificuldade de lidar com os caixas eletrônicos. A pessoa finge que está ajudando, grava a senha e troca o cartão no momento de devolvê-lo à vítima, que acaba com a conta raspada - diz o promotor.
A vítima desse tipo de ação não sofre apenas com a perda do dinheiro. Segundo a delegada Catarina Noble, é comum o idoso relutar em buscar a ajuda da polícia, por se sentir humilhado. Caso de um médico, de 85 anos, morador de Copacabana, que teve R$ 30 mil levados de sua conta no fim do ano passado. Ele não aceita falar no assunto. Situação semelhante à de Emília, que teve o nome completo preservado a pedido da família.
Nos casos de violência física, que soma 12% dos registros, a vergonha é explicada pelo fato da maioria dos agressores ser da família da vítima, ressalta o promotor Luiz Carvalho Almeida. Mas também há outros casos, como o da aposentada Maria Tereza de Souza Lima de 63 anos, que foi espancada após uma discussão de trânsito em Vila Isabel, em novembro passado.
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