Por Patrícia Oguma
Fonte: Banco de Saúde
Na maior parte do tempo as pessoas se sentem muito bem, mas de um dia para outro tudo pode mudar. Quando a depressão aparece, a visão que o indivíduo tem de si mesmo é transformada de aceitação em aversão, em culpa por falhas imaginárias de omissão ou responsabilidade, podendo chegar a tirar a própria vida. Vamos entender melhor esse estado de tristeza profunda com as palavras intensas do personagem Hamlet, de William Shakespeare:
“Ultimamente (mas os motivos me escapam) perdi toda a alegria, descuidei-me dos exercícios habituais. E, aliás sinto-me tão abatido que essa vistosa moldura, a terra, parece-me um promontório estéril; esse dossel estupendo, o ar, vê – esse magnífico firmamento suspenso, esse teto majestoso ornado de fogo dourado -, tudo isso para mim não é mais que um amontoado de vapores pútridos e pestilentos.”
A depressão é sombria, solitária, desligada, uma infelicidade óbvia, um surto de raiva. É um ódio pelo mundo e um ódio pelo seu ódio. O apego do deprimido aos que ama e a sua própria vida desaparece e ao mesmo tempo tenta desesperadamente restabelecer esse laço perdido. A depressão não é frescura, sinal de preguiça, comodismo e nem passa só com “pensamento positivo”. A pessoa deprimida geralmente está indecisa, sendo necessário que alguém tenha que tomar a decisão para se começar um tratamento e ajudá-la a não desistir no meio do caminho, pois pensa que “já causou muitos problemas e que já incomodou demais”, então para quê continuar atrapalhando a vida dos outros se a sua própria vida não tem mais jeito mesmo e nada fará diferença. Por isso o apoio da família se torna mais do que necessário, torna-se fator primordial para tirar o indivíduo desse estado de intensa tristeza, pois sozinho não conseguirá.
Além da pessoa deprimida, todos em casa acabam sendo contagiados pelo seu mau humor, pessimismo e reclamações. Mas o apoio da família é um suporte importantíssimo para ajudar o deprimido a sair desse estado e melhorar. Muitas vezes os familiares se sentem angustiados, desesperançosos, culpados e até culpam o outro por não entender direito o motivo daquele estado, achando que pode ser “frescura” ou só está se querendo “chamar a atenção”. Vivem constantemente entre o sentimento de impotência de não conseguir ajudar e o de raiva por achar que a pessoa deprimida também não está fazendo sua parte para melhorar. É importante lembrar que o indivíduo está doente e que precisa de tratamento medicamentoso, psicoterápico, ou os dois associados.
Segue abaixo algumas dicas práticas do que se deve ou não fazer para enfrentar essa fase da melhor maneira possível.
Atitudes que ajudam
1- Escute a pessoa deprimida. Você não precisa ter as respostas na ponta da língua e nem tentar solucionar nada. Apenas esteja ali presente ouvindo o que ela tem a dizer. Na maioria das vezes ela só quer desabafar e perceber que alguém está disposto a ouvi-la.
2 - Reconheça que a pessoa está sofrendo, pois ela realmente está.
3 - “A paciência é uma virtude”. Pratique todos os dias. Não é fácil ter alguém reclamando toda hora das mesmas coisas, mas é importante que você mantenha a calma e não traga mais um problema transformando tudo em discussão.
4 - Deixe bem claro que a pessoa tem seu apoio. Como em qualquer doença, saber que se tem alguém com quem contar e que é compreendido ajuda muito na recuperação.
5 - Não adianta ficar fazendo caras e bocas para tentar animar a pessoa e nem ficar teimando em dizer toda hora para ela reagir, pois é a mesma coisa que mandar uma pessoa com a perna quebrada correr. A depressão é uma doença e a solução depende muito mais do que força de vontade, depende de um tratamento adequado.
6 - Não fique apontando só os defeitos e dizendo que ela só reclama de tudo. Seja carinhoso! Elogie as qualidades e festeje as pequenas melhoras. Assim a pessoa se sentirá querida, reconhecida e importante para você.
7 - Procure se informar sobre a doença para você ficar sabendo o que realmente se passa com o deprimido. Quanto mais conhecimento, mais você poderá ajudar e entender determinados comportamentos.
8 - Permita que a pessoa sempre participe nas soluções de pequenos problemas diários, fazendo com que sinta-se útil, ajudando a levantar a sua auto-estima.
9 - Não diga ou faça nada que possa piorar a imagem pouco satisfatória que a pessoa já tem de si mesma.
10 - Se o caso for grave, jamais deixe a pessoa sozinha.
11 - Leve a sério comentários sobre suicídio, notificando o fato imediatamente ao médico ou ao profissional responsável.
Atitudes que não ajudam
1 - Excluir a pessoa dos assuntos familiares. Essa atitude faz com que ela se sinta cada vez mais isolada, pois sua opinião não conta mais.
2 - A pessoa com depressão, na maioria das vezes, se sente incapaz de realizar certas tarefas, mas ter que fazer algumas coisas a ajuda a melhorar a auto-estima, por isso não faça tudo por ela.
3 - Não critique e nem brigue com a pessoa por causa do seu estado depressivo, pois isso pode fazê-la desmoronar e se sentir mais incapaz e confusa.
4 - Durante a crise depressiva tomar decisões importantes e de grande impacto na vida não é a melhor coisa a se fazer.
5 - Não fique pressionando a pessoa deprimida a fazer isso ou aquilo. O respeito também é importante para ajudá-la, pois ela pode estar em um momento de desmotivação e com desejo de apenas ficar quietinha no canto dela.
Dicas para os familiares não adoecerem junto
1 - Não pense só no outro. Separe um momento para você. Faça algo que lhe dê prazer e que não tem nada a ver com a pessoa deprimida.
2 - Tenha hábitos saudáveis. Pratique exercícios, coma e durma bem. Você não ajudará ninguém se você não estiver bem e animado.
3 - Não mude sua rotina. Não reorganize e gire a sua vida ao redor da pessoa deprimida.
4 - Equilíbrio é tudo. Você não precisa ignorar a doença, mas também não se envolva mais do que o necessário.
5 - A responsabilidade não é sua se a pessoa está feliz ou não. A melhora não depende apenas de você, pois existem coisas fora do seu controle. Não se cobre demais.
6 - Não se anule por causa da pessoa deprimida, assim você se sacrifica mais do que o necessário e pode acabar com raiva do outro por ser privado da sua própria vida.
Lidar com a depressão realmente é uma situação desafiante, mas este também pode ser um momento para todos os familiares compreenderem a si mesmos e aos outros. Evidenciando suas capacidades e descobrindo muitas outras até então desconhecidas.
Bibliografia
Depressão na família. Disponível em: http://www.opiniaoweb.com.External Links icon Acesso em: 04 de Jan de 2011.
Holmes.J. Depressão; tradução Carlos Mendes Rosa. – Rio de Janeiro: Relume Dumará: Ediouro; São Paulo: Segmento Duetto, 2005.
Shakespeare, W., Hamlet, Act II, Scene II, Arden Edition. Londres: Methuen, 1981, p. 253. [Edições Brasileiras: Hamlet, trad. Milôr Fernandes, Porto Alegre: L&PM, 2002; Hamlet, trad. E adapt. Fernando Nuno, Rio de Janeiro; Objetiva, 2003; entre outras.]
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