Sem sexo por hoje
Perda de libido está entre principais queixas de mulheres, problema pode (e deve) ser conversado com ginecologistas durante a consulta médica
Por Flávia Milhorance
Fonte: O Globo
Uma rotina estressante, com tarefas intermináveis em casa e no trabalho, está reduzindo o desejo sexual de boa parte das mulheres brasileiras. É o que avalia Ivaldo Silva, professor de ginecologia da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), onde coordena o Grupo Afrodite, que abriga um ambuilatório voltado para orientar mulheres sobre sexualidade. Ele diz ter notado, na prática, que a perda de libido é uma das queixas mais frequentes entre elas. Tratar esse e outros problemas, ou ao menos identificá-los, faz parte da rotina dos ginecologistas. Pelo menos deveria.
- Se o paciente não falar, é importante que o médico pergunte sobre a vida sexual dela, pois é uma forma de entendê-la de maneira mais ampla - explica o professor. - A sexualidade faz parte do currículo da universidade de medicina, então teoricamente, todos deveriam ter essa noção. Mas muitos profissionais não falam sobre o tema com suas pacientes.
CAMPANHA PARA FALAR MAIS DE SEXO
Foi pensando nisso que o professor - através do Grupo Afrodite, que abriga o ambulatório - junto da psiquiatra Carmita Abdo - coordenadora do grupo Prosex, da Universidade de São Paulo (USP) - laçam a campanha "Sinta-se!". A primeira atividade do projeto é avaliar como está o diálogo sobre sexo entre ginecologista e pacientes. Eles aplicarão questionário aos profissionais durante o Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal, que começou ontem. Os resultados dessas pesquisas serão apresentados no próximo congresso de ginecologia, em São Paulo, em setembro.
A ideia da campanha, explica Silva, é lembrar que falar de problemas sexuais na consulta é tão importante como qualquer outro.
- Infelizmente, mulheres colocam outras queixas acima do sexual - ressalta Silva. - E os próprios médicos costumam dividir a paciente em partes, tratam o coração, o pulmão... Mas é bom lembrar que ela precisa ser vista como um todo. Às vezes uma queixa sintomática tem relação com um problema sexual.
Há cerca de uma década, o Prosex realizou um pesquisa e revelou, na época, que 56% das mulheres estão insatisfeitas com a vida sexual e 63% têm dificuldade de admitir o problema. Também apontou que 56% dos ginecologistas não investigam a vida sexual de suas pacientes e 50% dos profissionais mostraram-e poucos seguros para responder sobre problemas relacionados.
O pesquisador reforça que a mulher tem uma resposta sexual bastante diferente da masculina
- O homem faz sexo como uma forma de relaxar. a mulher é o contrário disso. Se ela não estiver bem consigo, se não estiver tudo em ordem, ela não consegue funcionar.
Além disso, ele lembra, falta de conhecimento e de conversa, assim como a cultura machista arraigada ainda influenciam a visão sobre sexo entre casais.
- Nos países sul-americanos, fala-se muito de sexualidade, mas o casal mesmo, não conversa, a mulher acha que precisa manter a regularidade sexual mesmo sem vontade como uma espécie de dever matrimonial, e o homem evita tratar o tema por achar que isso o torna mais viril.
Segundo Silva, a maioria das mulheres que busca ajuda no ambulatório tem curso superior. em camadas mais baixar e com menor escolaridade, o tema, ele diz, é colocado ainda menos em pauta.
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