Por Clarissa Pains
"O aprendizado é alcançado por meio da experiência e não do conhecimento" dispara o engenheiro de produção Guilherme Lito, enquanto abocanha um pedaço de pão orgânico regado a azeite feito pela namorada - que, empreendedora como ele, fundou uma empresa de pães. Num ato contínuo, ele deixa o olhar se perder pela sua enorme sala em Laranjeiras, decorada com poucos móveis, alguns instrumentos musicais e certificados de cursos despretenciosamente jogados em cestos. Lito é, a grosso modo, a personificação de uma nova geração de estudantes, profissionais e cidadãos. Ele não liga muito para o diploma de faculdade ou para as notas no histórico escolar,mas dá imenso valor às experiências trazidas pelos cursos que vai garimpando pela internet ou bate-papos com os amigos.
Uma mente cheia de ideias - sempre ávida por mais algumas -, ele busca inspiração para tocar seus projetos em fontes como a revista americana "Ressurgence & Ecologist" - a única que assina e da qual não abre mão - e a rede mundial de computadores. "O Youtube e meu laptop, junto com os amigos, são meus grandes mestres hoje", resume.
Formado na PUC-Rio, o rapaz de 26 anos foi presidente da Empresa Junior enquanto cursava a graduação e, em seguida, deu palestras e cursos em incubadoras do Rio como a Rio Criativo e o Instituto Gênesis; e em espaços de coworking, como o Templo e a Casa LUZ (atual Space Coworking). Em 2012, ele ministrou uma palestra no TEDx, um evento organizado localmente e paralelo ao TED. O discurso de 12 minutos e meio, intitulado "Homens ou máquinas", mostra um Guilherme Lito extremamente engajado na mudança dos paradigmas do trabalho e educação, porém mais agressivo do que o necessário, segundo ele próprio.
- Eu estava muito afoito por uma ruptura com o senso comum, e talvez tenha ofendido as pessoas que acreditavam no sistema educacional formal. Eu ainda acho que é preciso mudar o atual modelo, mas hoje entendo que tudo acontece aos poucos. O mundo já está mudando, e os paradigmas estão em transição sem as pessoas se darem conta - diz ele.
Sócio da empresa Brownie do Luiz desde janeiro passado, Lito pretende começar ainda este ano um projeto inspirado no Estaleiro da Liberdade, do Rio Grande do Sul. a ideia á levar para um retiro de um mês em Angra dos Reis jovens de 17 a 24 anos, que estão naquele momento crucial de decidir "o que fazer quando crescer". Depois desse período, eles teriam mais dois meses de autonomia para trabalhar em sistema coworking, aproveitando todos os contatos de Lito e de seus outros sócios.
- Somos a sociedade do conhecimento, mas sabemos muito pouco, cada vez menos. É aí que as escolas e os cursos mais tradicionais costumam falhar: não possibilitam que o aluno experimente o conhecimento - observa.
A primeira vez que o rapaz teve um "clique" sobre a importância de se repensar os modelos de negócio e de educação foi quando fez o curso "Art of Hosting" (arte de receber, em tradução livre) sobre como criar ambientes que estimulem o desenvolvimento de uma inteligência coletiva. Outro curso que o arrebatou foi o "Dragon Dreaming", que simula um planejamento de projetos feito a partir de um jogo de tabuleiro. O que mudou a vida do rapaz, no entanto, foi o curso Liderança para a transição" feito em dez dias no Schumacher College, na Inglaterra. A escola, conhecida mundo afora pelo seu forte viés sustentável, permite aos alunos colocarem em prática seus conhecimentos sobre meio ambiente, economia e desenvolvimento local e assuntos afins.
- No Schumacher College você tem aulas com ganhadores de prêmios Nobel, e, em seguida, está limpando o jardim e podando as plantas ao lado deles. Lá limpamos a casa, cozinhamos sempre dando preferência aos alimentos da época e cultivados por produtores locais. Todo conhecimento sobre sustentabilidade é posto em prática, é vivido - conta ele.
Fonte: O Globo
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