O ingresso numa faculdade é um dos momentos mais esperados pelos jovens brasileiros. É uma fase de transformação e amadurecimento. Mas será que todos os recém-universitários estão preparados para isso? Muitos se perdem no meio do caminho, pois acham que podem fazer de tudo.
O álcool e as drogas são os grandes vilões dos alunos. O aumento do consumo, em muitos casos, parece fazer parte do ambiente universitário, às vezes dentro da faculdade, ás vezes nas repúblicas e, à vezes, nas famosas festinhas.
Visando melhorar este quadro, o Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Unesp, campus de Botucatu, mantém o programa "Viver Bem", que traz um levantamento sobre a rela situação dentro da universidade e aponta possíveis soluções para o problema.
O programa teve início em 1997 e surgiu de uma proposta feita pelo Conselho de vice-diretores da UNESP- CONVIDUNESP em uma reunião realizada no mês de novembro daquele ano na Faculdade de Medicina, campus de Botucatu. Naquela ocasião, a partir de uma exposição feita pelos vice-diretores sobre a preocupação existente nas várias Unidades da UNESP relacionada com o consumo de álcool e drogas por parte de alunos de graduação e funcionários, chegou-se à conclusão que o problema deveria ser encarado pelas administrações universitárias de uma maneira profissional e técnica.
O programa é coordenado pela Profa. Dra. Florence Kerr-Corrêa, da disciplina de Psiquiatria do Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu, profissional que trabalha na área de dependências químicas.
Diagnóstico do problema
Para construir o levantamento sobre a real situação do problema na UNESP, foi elaborado um questionário que abordava o uso de álcool, drogas e condições de saúde dos alunos de graduação da UNESP, composto por 161 questões, baseadas em um questionário proposto pela Organização Mundial de Saúde para detecção precoce do uso de álcool e drogas, acrescido de outras questões, que somadas possibilitariam saber a situação de risco para outras patologias clínicas e psiquiátricas, além de dados sobre condições econômicas e sociais desses alunos.
A análise dos resultados da pesquisa entre os universitários mostrou que esses alunos provêm principalmente de classes A ou B, seus pais têm nível universitário, incluindo as mães, em mais de 50% deles. "No entanto, cerca de 10 provêm de camadas menos favorecidas da população; aproximadamente 50% moram com amigos, em repúblicas, e apenas 5% em moradias estudantis", conta Florense.
Além disso, cerca de 67,2% não trabalham e, dos que têm remuneração, a receita é proveniente de bolsas de estudo em percentagem semelhante para rapazes e moças (20,3%). "Os que experimentaram alguma droga na vida (sem prescrição médica) estão m torno de 43,5% deles, sem considerar álcool e tabaco. Perto de 27,1% dos estudantes experimentaram drogas antes de entrar para a faculdade e outros 16,4%, após iniciar a faculdade", revela.
O uso mais intenso ocorreu entre 21 e 25 anos, entre o segundo e terceiro anos principalmente. "Nos últimos 30 dias, as drogas ilegais mais utilizadas tinham sido maconha (14,9%), inalantes (11,3%), cocaína (2,9%), alucinógenos (2,7%), ecstasy (0,6%) e crack (0,5%). "Das drogas legais (bebidas alcoólicas), foram consumidas por 74,4% dos alunos no último mês e 30% bebiam mais de uma vez por semana", conta a autora da pesquisa.
O levantamento apontou ainda que cigarros (tabaco) são fumados diariamente por 11,3% dos estudantes da área Biológica, 9,4% dos estudantes da área de Exatas e 11,9% dos estudantes da área de Humanidades.
"Todas as drogas são mais consumidas por homens, com exceção de medicamentos para emagrecimento (anfetaminas) e tranquilizantes. Drogas e álcool são utilizados principalmente nas repúblicas e com amigos. Além disso, mais de 42,3% dos alunos não fazem uso regular de preservativos nas relações sexuais. A maioria (64,4%) não acha que tem risco de adquirir Aids, e cerca de 10,8% acha que não sabe o suficiente sobre prevenção de Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis", afirma Florence.
A pesquisadora também faz uma comparação com o problema instalado nos EUA. "A freqüência do uso de drogas, apesar de preocupante, é inferior à norte-americana. No entanto, o uso de álcool é semelhante e torna-se, de longe, o problema mais importante a ser enfrentado", explica. "Além disso, o acompanhamento das pesquisas sobre tendências no uso de álcool, nos EUA, permite acreditar que é possível influenciar e modificar o comportamento, principalmente quando se visa a moderação em vez da proibição", complementa.
A principal conclusão foi que seria importante iniciar um programa de prevenção no primeiro ano de todas as faculdades, tanto para o uso de álcool e drogas como de gravidezes indesejadas e doenças sexualmente transmissíveis. O programa escolhido é baseado no pressuposto da redução de danos, que parte do princípio de que não é possível conseguir que as pessoas não usem drogas ou álcool. "Assim, seria melhor ensiná-las a usar álcool de forma não prejudicial. No caso, a intenção é trabalhar mais com a ingestão de álcool, ensinando os estudantes a beber com moderação, saindo do padrão habitual de beber com intoxicação (embriagando-se)", finaliza Florence.
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