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ALIADO DA MENTE : ATIVIDADE FÍSICA




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Exercício físico melhora as funções do cérebro e ajuda no tratamento de doenças como Alzheimer

Por Ana Lúcia Azevedo
Fonte : O Globo


O poeta romana Décimo Júnio Juvenal, a quem é atribuída a máxima "Mens sana in corpore sano" (Mente sã num corpo saudável) não pensou no tratamento de doenças neurológicas e psiquiátricas quando a escreveu. Juvenal estava mais interessado em criticar aqueles que rogavam aos deuses por coisas tolas em vez de orar por uma boa saúde. Mas a vanguarda de estudos de neurociência mostra que ele foi involuntariamente profético. Hoje, exercícios físicos começam a ser incluídos no tratamento de pessoas com doenças neuropsiquiátricas, como o mal de Alzheimer e a síndrome do pânico. E os resultados são animadores.


Outras pesquisas derrubam ainda o mito de que as pessoas mais inteligentes são aquelas dedicadas apenas a atividades intelectuais do tipo que faz tudo sentado. Pesquisa em escolas americanas demonstram que os alunos que se saem melhor em ciências e matemática, por exemplo, são aqueles que se exercitam mais.

O mal de Alzheimer cresce no mundo à medida que a população envelhece, mas não tem tratamento farmacológico eficaz. Hoje, é principal forma de demência em idosos. Mas uma pesquisa realizada na Unicamp indica que o exercício é um aliado poderoso, capaz de melhorar funções do cérebro e aumentar a qualidade de vida de pessoas com a doença.

O estudo que faz que faz parte da tese de doutorado da especialista em ciência do esporte e neurociência, Camila Vieira Ligo Teixeira, do Laboratório de Neuroimagem e Física Médica da Unicamp, oferece resultados significativos. Após seis meses de treinamento com exercícios, um grupo de 25 pacientes com uma forma leve de Alzheimer obteve melhora clínica com menos estresse, apatia e depressão.



CAPACIDADES RESTAURADAS

Os pesquisadores empregam a associação de avaliações clínicas a exames sofisticados com tractografia, capaz de analisar as conexões e a integridade dos neurônios. Este exame mostra as funções nervosas perdidas pela doença foram recuperadas. Segundo camila, o exame identificou a remielinização dos neurônios - em bom português significa que a capa protetora das células nervosas, importante para a comunicação de sinais do cérebro, foi restaurada em parte.
- Nosso estudo sugere que o exercício ajuda a recuperar a comunicação entre a células afetadas pela doença. Observamos um melhora da função executiva do cérebro. É ela que nos ajuda a planejar. Inclusive coisas simples, como tomar banho e fazer café. Essa função é muito comprometida pelo mal de Alzheimer. Os paciente voltaram a fazer coisas que já não podiam mais. a atenção também melhorou.

O grupo de pesquisadores, que inclui ainda educadores físicos, geneticistas, cardiologistas e outros profissionais, ofereceu aos pacientes - homens e mulheres dos 60 aos 82 anos - atividades como caminhada, futebol, vôlei, tênis e, para alguns, até corrida. A intensidade era variável em função do estado do paciente e aumentava progressivamente.

Como o estudo avaliou dados de apenas seis meses do treinamento, ainda será preciso mais tempo para saber se houve ganhos de memória significativos. Camila está otimista de que haverá.

Seu otimismo se baseia em pesquisas básicas realizadas em laboratórios. são estudos como os da neurocientista Clarissa Schitine, do Laboratório de Neuroanatomia Celular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ. Clarissa estuda a neurogênese, a capacidade do cérebro de formar novos neurônios. há cerca de duas décadas, achava-se que os neurônios perdidos não eram repostos. Agora se mostra que os exercícios são capazes de estimular o desenvolvimento de novos neurônios. em animais, está comprovado.

Os neurônios nascem em áreas profundas do cérebro, o hipocampo e a zona subventricular. O hipocampo está ligado à memória e, por isso, o exercício é visto como aliado para combater a perda de memória associada ao estresse, ao envelhecimento e a doenças. O exercício atua sobre a gênese da proliferação de neurônios. Ele faz isso ao aumentar a produção de uma substância chamada BDNF, uma espécie de tônico cerebral, que favorece a formação, a proliferação e a comunicação dos neurônios. É um efeito semelhante ao produzido por drogas antidepressivas.
- O exercício aumenta tanto a expressão gênica quanto a proteína do BDNF. Essa substância é extremamente importante pois estimula a plasticidade dos neurônios, isto é, a capacidade de lembrar e aprender coisas, por exemplo - explica Clarissa.

Em animais quatro semanas após o início do treinamento aeróbico já é observado o desenvolvimento dos neurônios.
- Em seres humanos, esse efeito parece levar de três meses a seis meses. É muito animador, porque os exercícios não têm efeitos colaterais e proporcionam uma série de benefícios à saúde - diz Clarissa.

Ela destaca que o exercício atua também sobre a perda de memória associada ao envelhecimento:
- Não só ele previne, quanto ajuda a reverter. em animais está comprovada a ação benéfica em doenças como Parkinson e Alzheimer. em seres humanos há importantes indícios e novos estudos prometem trazer boas novidades.

Ela lembra que o uso de exercícios como tratamento da depressão já é forte tendência, pois a atividade física de moderada a intensa libera neurotransmissores importantes como a dopamina.

Ima pesquisa publicada na revista científica "PLOS Biology" apresenta ainda mais provas da força do exercício no cérebro. Pesquisadores do The Jackson Laboratory, no Maine EUA, viram que correr regularmente ajuda a reduzir mudanças na estrutura do cérebro relacionadas ao envelhecimento. Essas alterações provocam inflamações, que podem levar à demência na velhice.

Gareth Howell, principal autor, diz no artigo que o exercício se firma como potente aliado contra o envelhecimento do cérebro, mas destaca que a atividade física precisa ser regular, de moderada a intensa, e por toda a vida.


PACIENTES COM SÍNDROME DO PÂNICO GANHAM AUTOCONFIANÇA: ATIVIDADE REGULAR DIMINUI A INCIDÊNCIA DE CRISES DE ANSIEDADE

Pessoas com síndrome do pânico costumam ter baixíssima tolerância ao exercício. Muito provavelmente, segundo cientistas, devido aos sintomas manifestados num ataque, como taquicardia. Num ciclo vicioso, essas pessoas costumam apresentar baixo condicionamento cardiorespiratório. Porém é justamente o exercício que tem feito pacientes assim ganharem qualidade de vida, autoconfiança e supressão de crises externas de ansiedade.

A síndrome do pânico é uma das doenças psiquiátricas mais comuns do mundo. Afeta entre 1,7% e 5% da população global e a Organização Mundial de Saúde (OMS) a lista entre as 20 doenças mais debilitantes do planeta. Um estudo  pioneiro dos pesquisadores brasileiros Raphael Marques Gomes, Aline Sardinha, Claudio Gil Araújo, Antonio Nardi e Andrea Deslandes, todos da UFRJ, mostrou que treinamento aeróbico pode ajudar a controlá-la

O editos de livros Ronaldo Bolsas Pereira Teixeira, de 63 anos, convive com a síndrome do pânico desde de 1980. há dez anos, porém, viu sua vida melhorar com o programa de exercícios. ele faz atividade física regularmente sob a supervisão de Araújo.
- No início tinha medo, porque os ataques de ansiedade fazem com que o coração dispare. você tem infartar. vira hipocondríaco. aos poucos, o treinamento lhe mostra que isso não é verdade. Com o exercício mais intenso, sua pulsação sobe mais mais do que num ataque. E nada acontece. Você descobre que ficará bem. É uma sensação maravilhosa. Devolve a autoconfiança.

Ele conta com as medicações auxiliam em muitos aspectos, mas não eliminam a hipocondria intensa:
- Com exercício, ela desaparece. Você na prática que os sintomas não têm fundamento.

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