Você fez um bom trabalho! Geralmente esta é uma das senhas para começar a estabelecer para si mesmo metas mais audaciosas em nome da superação pessoal. Perceber-se valorizado no trabalho pode gerar no indivíduo um sentimento de obrigação de corresponder sempre às expectativas, um modo de ganhar cada vez mais a confiança do chefe e da equipe.
Acontece que neste movimento, aliado a jornadas de trabalho muito pesadas, somado a pressões e cobranças externas e internas, a mente começa a falhar. Dores crônicas, taquicardia e até apagões mentais passam a acontecer e neste momento o indivíduo começa a desenvolver a chamada síndrome de burn out.
É uma roda viva que o indivíduo entra pela busca incessante de resultados, cumprimento de metas etc. Os prêmios e o respeito da equipe fazem que não se perceba os sinais de alerta do organismo reduzindo a rotina, procurando ajuda, e sim, vendo nestes sinais algo sem muita importância. O sujeito vende as férias ou tira apenas poucos dias, mas quando se ausenta não consegue "desligar" e nestes casos pode ocorrer depressão, ataques de ansiedade.
Diminuir o ritmo, admitir que algo está "errado", buscar tratamento é um desafio a ser vencido, Uma pesquisa feita pela sede brasileira da International Stress Manager com mil profissionais identificou que 72% dos entrevistados sofriam com estresse, sendo que 30% deles apresentavam burnout. Em primeiro lugar está o Japão e o Brasil vem em seguida.
Tarefas corriqueiras como ler um e-mail vão ficando comprometidas pois é como se houvesse a perda das funções cognitivas com lapsos de memória, dificuldade de compreensão, o que acaba gerando baixa produtividade. O tratamento envolve medicamentos contra a ansiedade (ansiolíticos) e antidepressivos.
A pessoa que se sente injustiçada e sem reconhecimento no trabalho também faz parte do grupo de risco que favorece o surgimento da síndrome.. A sobrecarga pela falta de equipamentos e equipe reduzida levando à execução de tarefas além das responsabilidades do funcionário, também contribuem para o seu desenvolvimento. Sem falar no conflito de valores entre funcionário e empresa como um forte motivador - É o caso daquela pessoa que sabe que o produto é ruim, mas precisa vendê-lo para garantir o salário.
Profissionais que possuem a tarefa de cuidadores como médicos e professores também têm sido afetados. São pessoas que tem como tarefa ajudar os outras, mas não conseguem cuidar de si mesmos . Jovens na faixa de 25 a 30 anos também já começam a apresentar alto nível de estresse crônico. Geralmente sofrem com muita cobrança e o desejo de abraçar o mundo..
Quem é responsável?
Um trabalho de conscientização é importante para perceber a complexidade da síndrome que se não tratada pode levar a resultados irreversíveis causando forte impacto na produtividade e outros encargos relativos ao abandono do trabalho. Reconhecer os sinais e trabalhar rapidamente para evitá-los e uma iniciativa essencial. Equilibrar a vida pessoal com a profissional continua sendo a medida de prevenção mais importante. Boa alimentação, atividade física, bom sono, lazer se somam aos cuidados a serem tomados..
Afinal, de quem é a culpa? É pensar numa corresponsabilidade. Ter atenção com o perfeccionismo e as críticas internas. Fazer tudo correndo sem perguntar os prazos também precisa ser repensado. Não há também como não questionar a cultura das empresas. É preciso questionar se vale à pena levar o funcionário à exaustão com horas extras pois pode custar muito caro substituí-lo
Embora o estresse já ganhou espaço de algum modo nas agendas das empresas há tempos a síndrome do burnout ainda não é tão conhecida e as áreas de RH devem disseminar estas informações, orientando sobre sintomas e tratamento.
Programas de qualidade de vida podem ser uma boa inciativa. Os profissionais devem pedir ajuda, negociando sua ausência do trabalho por uns dias, antecipando férias quando possível. É vital tratar este assunto com naturalidade, oferecendo auxílio necessário sem discriminar o profissional. Trabalhadores estressados gastam muito mais em saúde, o que causa prejuízo às empresas.
O burnout é um alerta de AVC, é o corpo pedindo socorro. A atenção com os limites do corpo é um aprendizado que vai além das relações de trabalho.
Regina Bomfim
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