Penso que cometi um erro. Falar sobre felicidade e tudo que existe sobre pensamento e atitudes positivas é um pouco discutível neste tempo em que as pessoas se veem obrigadas a serem sempre "felizes, assertivas e só focar no bem". Isso, na minha visão, acaba criando uma ideia de que existem sentimentos "bons ou ruins" (eu mesma acreditei nisso até pouco tempo, ainda aprendo). Sentimentos são sentimentos e devem ser acolhidos. E só. Sentimentos são como os dentes que temos na boca. Eles têm sua forma e função. A mastigação eficiente precisa de todos os dentes juntos. A falta de um ou mais dentes altera todo o processo.
O que você tem de "pior"? O que desse pior, você esconde a "sete chaves" porque ia destruir a sua reputação? E aquela tristeza, aquele medo? E quando você errou feio e todo mundo riu da sua cara? E aquela mágoa, aquela raiva, aquele ódio que você tem de coisas antigas que ainda te corrói? E a vontade de se vingar? E quando você magoou sério alguém etc? Sabe o que você faz com isso? Acolha! Olhe com amor para você e saiba que todos somos humanos e cada um (até os que vendem alegria e força) no seu grau vive momentos assim. Acolha seus sentimentos, Somos pessoas em permanente desenvolvimento, em crescimento. Não é preciso ser o animador de festa, o super, mega da felicidade todo tempo.
Antes de tudo, se acolha do jeito que é agora, isso, agora mesmo com tudo quebrado por dentro, sem make e nem filtro.. A gente se dá de presente jantar, uma viagem, uma roupa, tanta coisa, por que não se dar de presente a delicadeza para com nossas impossibilidades e ignorâncias momentâneas?
Acolha seus sentimentos como "tijolos" fundamentais de uma obra linda e única de construção que é você. Tudo no seu tempo, no seu ritmo... Essa sinceridade e paciência consigo mesmo e este amor você merece aprender a se dar! Nós merecemos! Ser capaz de se conhecer, se assim desejar e deste modo, criar o que quer para si. Quem diz aqui que é fácil? Eu não.
Esta é uma opinião minha, fruto de observações e vivências. Creio que o adoecer não vem tanto do cultivo de sentimentos "ruins", mas por todo um "combate interno" em negar, tentar colocar um sentimento "bom" no lugar, esconder, se criticar etc. Mudar um sentimento (com ou sem ajuda profissional) envolve aceitação e compreensão gradual. Um exercício, algo complexo. Sem moralismos, ou seja, sem manual.
Tanto estar feliz quanto triste são experiências fundamentais de um conjunto de vivências que cada um tem a aprender a lidar na sua trajetória individual, é o que garantirá o seu florescimento como indivíduo autêntico, integrado e em mutação. Esta falta de intimidade com o sentir torna tudo muito assustador porque é ainda um território pouco explorado. A humanidade avançou em vários setores, mas ainda somos estrangeiros no íntimo. As pessoas já começam a se dar conta pouco a pouco de que há um território interior a ser explorado.
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Estamos todos neste barco chamado Existência navegando por mares ora calmos, ora bravios, aprendendo sobre os cuidados que devemos ter ao navegarmos em cada tipo de tempo, até que chegará um momento que seremos tão hábeis como os navegantes experientes, que só pelo vento, pelo movimento das águas, o voo dos pássaros, o excesso de carga etc, saberemos quais instrumentos usar. Aprendemos.
Esta analogia com o mar me fez lembrar de canções, me fez antes lembrar de Paulinho da Viola que tanto fala do mar de modo poético, mas acabei escolhendo a canção de João Donato e Abel silva que adoro Brisa do mar na voz de Nana Caymmi. João Donato, cantor compositor e pianista dos mais importantes da MPB que nos brinda com sua deliciosa fusão de jazz, ritmos latinos (bolero, mambo, salsa etc) e MPB, fez aniversário no último dia 17 e continua na ativa e criando do alto dos seus mais de 80 anos. Gostaria de pegar um trecho da música e que o mesmo se torne a mensagem mais forte de todo este texto:
Pra ser felizNão há uma leiNão há porémSempre é bomViver a vida atentoAo que diz no fundo do peitoO seu coraçãoE saber entenderOs segredos que ele ensinarMensagens sutisComo a brisa do mar
Regina Bomfim
Felicidade é algo muito pessoal...
ResponderExcluirPois, para algumas pessoas é ter uma boa condição financeira, e poder comprar aquele carro que sempre desejou... Para outras, é nunca mais ter que passar por um sofrimento na vida.
Porém, acho que felicidade é estar bem consigo mesmo. E apesar de serem difíceis. Os momentos de tristeza podem ser considerados como uma fase de amadurecimento, para refletir seus atos. Uma evolução individual.
Concordo Caroline. A força de tudo que quis dizer neste texto é saber que não existe manual e tudo que vivemos tem valor para o nosso crescer. Grata pela visita.
ExcluirExcelente texto!!! Importante ter compaixão por tudo aquilo que vivenciamos...
ResponderExcluirVindo de você... Grata
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