Furacões, tsunamis, terremotos, desmatamentos... Notícias que nos chegam de tempos em tempos. Estes fenômenos costumam deixar a todos perplexos.
O homem vendo-se como um ser superior à natureza, que conseguiu controlar, tendo com a mesma uma relação apenas extrativista, predatória. É possível observar que esta visão da natureza como coisa a ser usada, uma das mais fortes marcas da fundação do Ocidente Judaico-Cristão.
O Humanismo foi um importante movimento intelectual do Renascimento ocorrido no final do séc XIV ao início do séc XVII impulsionado pelos avanços nas navegações, nas artes, na política, entre outros que coloca o homem como o pináculo, o ponto mais alto de toda criação, dando um "pontapé inicial", influenciando fortemente no desenvolvimento de uma psiquê coletiva que a partir daí passou a acreditar num sentimento antropocêntrico de supremacia sobre todos os outros "companheiros de jornada evolutiva" com quem compartilhamos a vida na Terra.
Este sentimento deu origem a uma grande evolução na capacidade criativa do homem, mas em contrapartida também produziu, um sem número de apropriações destrutivas, ações, atitudes caóticas que acabaram afetando todas as outras formas de vida do planeta, suas reservas naturais de um modo sem precedentes na história. O impacto destas ações é objeto de estudos e discussões acerca da interferência humana no ecossistema, no clima e na desigualdade econômica dos aglomerados urbanos.
O conceito de superioridade, de estar no "topo da cadeia alimentar" impregnou a mente coletiva da humanidade. Ao abrir caminho para este tipo de visão, estamos abrindo caminho para todo tipo de ideia de superioridade seja racial, religiosa, que uma região ou nação é superior a outra, discriminações sexistas... Esta visão separatista original produziu e produz sofrimentos em nós e na humanidade inteira porque ela se ampliou com a evolução do homem. O homem nunca esteve tão doente, obesidade, diabetes, hipertensão, depressão, ansiedade... Não afirmamos, mas é possível que tudo esteja interligado.
Em seu livro, Well Mind, Well Earth, o psicólogo e ecologista Michael J. Cohen afirma que o mundo natural é "uma outra civilização como a nossa que "cada um de nós é parte da civilizada e sempre mutante perfeição da Natureza", ressalta que pessoalmente, socialmente e ambientalmente boa parte dos nossos problemas resultam de diferenças entre processos que o ambiente natural e nós usamos para construir nossas relações. Nossa lógica envolve a mente abstrata, a linguagem, símbolos e imagens, enquanto que o mundo natural se expressa através da atração de energias, uma comunicação não linguística.
A fim de superar tais cisões, é trazido o conceito de identidade como instrumento capaz de promover a complexa articulação entre Natureza e Subjetividade. Através dela compreendemos o modo como os sentidos presentes no conceito de Natureza podem ser auxiliares no processo de construção da identidade humana - a qual reflete conceitos, subjetivos, intersubjetivos (eu e o outro) e planetários. Diante dessa visão ampliada de nós mesmos e das relações concretas e abstratas que estabelecemos com o mundo. Assim estabelecemos a relação entre Psicologia e Ecologia como elementos que nos afetam além de uma necessidade de "plantar árvores" ou "economizar água" em função de uma crise hídrica no mundo conceitos muitas vezes em nós incutidos visando o interesse econômico de alguns.
Toda a Terra é sagrada. Como parte da 'malha da vida', nós seres humanos herdamos também a integridade de forma congênita. É a nossa natureza interior como um canal aberto para a Terra que devemos aprender a nos reconectar, analisar validando sua integridade/identidade e cuidar com amor sincero do planeta que somos todos nós.
Um dos pilares do PSICOLOGIA EM FOCO é a Ecologia, algo que venho estudando para integrar à minha prática (ainda não sei como). Já existiram alguns posts no Blog, mas nenhum que falasse com exclusividade, por isso senti necessidade e também fui motivada pelos recentes acontecimentos. Quase sempre temos notícias sobre alterações no clima ou algum outro fenômeno natural.
Depois que tinha criado este post tive contato com o trabalho do pianista Fabio Caramuru e o projeto Eco Música criado por ele. Através do som de vários pássaros, alguns insetos e bichos bem conhecidos por nós, ele, que gosta de improvisar no piano, compôs músicas e criou um espetáculo audiovisual lindo. Fui ao seu recital e saí de lá encantada. O que mais chamou me atenção, foram os espaços vazios entre uma atração e outra.
Ele, como músico e criador do projeto não temeu que o silêncio desinteressasse as pessoas. Algumas saíram no meio do espetáculo justo no meio destas pausas. E como o contato com o vazio pode incomodar... A Natureza tem som, mas também tem muito silêncio e nós humanos no topo da criação, devemos continuar evoluindo, mas também saber nos abrir às suas linguagens, pois estando no topo da cadeia que sejamos guardiões de todas as outras formas de Vida. Para quem está em São Paulo, me parece que o espetáculo irá para Sesc. O músico tem um site com seu nome. Imperdível
Regina Bomfim
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