Ir à biblioteca para mim é lazer, tanto quanto ir ao shopping ou qualquer outro lugar. É como ir ao cinema. Sou da turma que gosta de ver filme no cinema . Nada contra todas as ferramentas digitais de hoje para obter livros e filmes. Mas ir a uma biblioteca ou ao cinema tem uma mística que envolve o lugar, se for antigo, a arquitetura, a história do lugar e um modo de olhar as pessoas, imaginar suas motivações de estar ali onde tudo tem uma memória envolvida das pessoas que pegaram aquele livro que pedi. E o silêncio.
Amo o silêncio, a fala sussurrada nestes ambientes, o lugar perfeito para o recolhimento que nem sempre é possível em casa, as mesas e cadeiras convidando a manter a coluna ereta. Sempre gostei de ler e escrever sentada corretamente. Alguns não ligam para isso, leem deitados, com fone de ouvido e tudo funciona bem assim. Ah, mas para mim o silêncio é fundamental na leitura, é fundamental na vida em certos momentos. Nem todos os espaços do gênero é possível respeitar plenamente o silêncio.
Certa vez, voltando para casa à noite, vi uma mulher em situação de rua aproveitando a luz bem forte da marquise de um banco onde se abrigava, para ler. Parecia ser muito bom o livro, pois era possível sentir sua alma raptada pelo texto. Era uma situação inusitada, triste e linda. No meio de uma situação de indigência, havia um ser que por motivos que sempre serão por mim ignorados, escolhia a leitura para se ocupar e assim talvez, colocar na sua vida algum encanto, algum sonho. quem sabe naquele livro existia uma "asa" que faltava para ela construir concretamente uma nova realidade? Não sei, mas era bonito.
Noutra ocasião, vi uma mãe jovem com sua bebê que mal conseguia sentar numa biblioteca infantil - adoro bibliotecas infantis - lendo para sua filha que certamente nada entendia do que era falado, mas me pareceu um cuidado porque também era aproximação, era sobretudo um momento de construção de um hábito, mas sobretudo de construção de afeto com as cores e as imagens do livro e do lugar. Ela certamente nada entendia, mas estas sementes que se lançam em tenra idade, sementes de amor e cores germinarão em algum momento, de algum modo lá na frente.
Gosto do que sinto na biblioteca e no cinema porque são estímulos a mais. Gosto de viver momentos "analógicos" e tecnológicos, mas o se deixar impregnar pelo local, pelo estudo, pelo lazer que também existe na leitura, pelo silêncio (há espaços de silêncio perfeito e isso pra mim é ótimo quando acontece), tem o deslocamento para o local... O que mais quero é que minha alma e meu corpo jamais sejam "sedentários" destes prazeres. Envelhecer com essa disposição de captar a vida "além" dos seus movimentos superficiais, é um luxo Que assim seja.
Regina Bomfim
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