Há pessoas de idade avançada que sentem grande dificuldade em lidar com a tecnologia, há também os que dominam com facilidade tanto quanto ou mais que os jovens sendo autodidatas, fazendo cursos, pesquisando...
Talvez eu esteja ousando ao entrar neste assunto. Há profissionais que se especializaram em ensinar este tipo de público que cresce em nossa sociedade. Seria interessante saber da vivência destes profissionais, as metodologias criadas para dialogar, criar pontes que facilitem o conhecimento da tecnologia dentro das prioridades de cada um.
O que observo em geral é um tipo de resistência ao conceber a tecnologia como um "outro mundo", um mundo que jamais se comunica com o mundo real. Na minha visão - de uma pessoa que consegue se movimentar no mundo virtual de acordo com suas necessidades - o mais importante é pensar que usar a tecnologia (computadores, smartphones, smart tvs) não é entrar 100% num mundo novo, mas que a base da sua criação está apoiada nas palavras e objetos do cotidiano no que se refere ao uso corriqueiro de acessar aplicativos, navegar na internet, usar redes sociais, whatsapp.
Esta pode ser a forma de diminuir a estranheza dos que apresentam grandes dificuldades, que os fazem sentirem-se "burros", apesar de terem sido extremamente competentes em suas profissões.
Existe em geral um desejo natural de querer rapidamente executar as tarefas desejadas. Antes de saber como cada coisa funciona e executar o que deseja, penso existir uma etapa anterior que envolve "não apertar/clicar em nada", mas olhar as imagens e palavras iguais ou semelhantes no cotidiano.
É possível encontrar palavras como pesquisar, salvar, enviar, sair e símbolos como lupa (pesquisar), um quadrado com a imagem de uma montanha (adicionar fotos), os formulários (idênticos ao cotidiano) que em geral se preenche com seus dados pessoais para criar um perfil de redes social ou um e-mail, o símbolo + (que significa adicionar). Há palavras e símbolos que são auto explicativos. De repente com este olhar, se torna possível executar tarefas de modo intuitivo.
Há sem dúvida palavras e símbolos novos, diferentes onde esta analogia com o dia a dia não acontece e aí serve pedir ajuda ou pesquisar, leia o manual. Sei que tem muita gente que detesta ler manuais (também não gosto muito, só leio quando não consigo resolver e em partes, depois leio tudo aos pouco) , mas são úteis e nem sempre é preciso ler desde o início, mas ir no ponto onde surgiu a dúvida pode ajudar na resolução. Às vezes não acontece assim, porque para realizar certa tarefa há outros elementos envolvidos. Enfim, ler o manual é sempre bom.
Desenvolver a curiosidade, se permitir ser curioso é bem importante. A curiosidade nas (bem) antigas gerações era sinônimo de quase "pecado", a "curiosidade matou o gato" é uma expressão popular que diz: um mal pode ocorrer se a pessoa for curiosa demais. As pessoas de 70, 80, 90 anos em geral receberam uma educação muito rígida em que a imaginação, a curiosidade era um valor de pouca ou nenhuma importância. Tais sentimentos podem ter sido suprimidos em nome da necessidade de dar atenção a coisas mais "objetivas, as urgências da vida e muitas vezes precisou ser assim mesmo.
A imaginação, a curiosidade nestas épocas eram desestimuladas e até mesmo vistas com maus olhos, por talvez serem matéria prima das artes. Ser artista, viver uma vida de abertura à criatividade, curiosidade e a imaginação já foi coisa de marginal e prostituta. Quem se arriscou neste caminho no passado foi um desbravador de tudo que desfrutamos hoje. Independente dos caminhos objetivos ou subjetivos escolhidos esta geração (bem) antiga foram desbravadores e importantes referências para compreendermos os nossos dias. Ao contrário do que dizem, olhar para trás pode ser importante para compreender o hoje e resignificar os caminhos.
Alguns idosos resistem e se refugiam na nostalgia, outros acham que podem querer mais da vida. São olhares, opiniões pessoais. Antes de tudo, que cada um viva o caminho que escolheu para si. As experiências vividas pelas antigas gerações acima citadas, podem produzir certa resistência ao entrar em contato com a tecnologia e é ilusão das gerações mais jovens negar os passos que foram dados bem antes deles.
Talvez uma comparação que podemos fazer com esta relação tecnologia/cotidiano, seja como dirigir um automóvel, há uma sequência de passos que merecem atenção: os espelhos, o painel, os pedais, as placas etc. Há uma sequência lógica de ações - realizar uma tarefa é muito mais do que saber "onde devo apertar". Esta lógica do "onde devo apertar" é frágil, pois aparelhos evoluem e forma de executar a mesma tarefa pode sofrer algumas alterações (leves ou radicais, mas alguma coisa permanece). Observe. Desenvolver um olhar mais atento aos detalhes. Deve ter outros métodos. Gostaria de saber.
Não se ache um "estúpido" por não saber, vá com calma, antes de mexer busque semelhança com o cotidiano, peça ajuda, pesquise, faça curso. Pode ser uma sensação muito boa sentir-se vencendo a si mesmo
Regina Bomfim
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