Dúvidas Apócrifas de Marianne Moore - João Cabral de Melo Neto
Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indireta, confissão,
pelo avesso,
e sempre impudor?
A coisa de que se falar
Até onde está pura ou impura
Ou sempre se impõe, mesmo
impuramente, a quem dela quer falar?
Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar
é forma de falar da coisa?
No livro: O artista inconfessável publicado pela Alfaguara.
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