A relação entre eventos da vida, o estresse e a doença psiquiátrica não é sempre direta. A dor psicológica ou o estresse isolado apesar da profunda perda, desapontamento, vergonha ou rejeição, raramente é causa suficiente para o suicídio. O peso da decisão de morrer repousa na interpretação dos eventos e a maioria das pessoas, quando saudável, não interpreta nenhum evento como devastador o suficiente para justificar o ato de se matar.
O suicídio é o ponto final de uma série contínua de pensamentos e comportamentos suicidas. Essa série contínua varia desde comportamentos que acarretam riscos, estende-se por diferentes graus e tipos de pensamentos suicidas e termina com as tentativas de suicídio e a consumação do ato. Para algumas pessoas, o suicídio é um ato repentino; para outras, é uma decisão longamente considerada, com base em desesperança acumulada ou circunstâncias terríveis.
O suicídio é um ato tanto estereotipado quanto altamente individualizado. É o ponto final comum para muitos pacientes com doença psiquiátrica grave. Do ponto de vista funcional, diversos pesquisadores observam que os pacientes que apresentam pensamentos ou atos suicidas têm redução da atividade serotoninérgica cerebral.
O abuso de álcool e de drogas ilícitas pode precipitar quadros psicóticos, piorar sua evolução ou dificultar procura de tratamento especializado. Os usuários de drogas, habitualmente, inicam seu uso na adolescência, o que tem relação com a elevação em trêsvezes da incidência de suicídio nessa faixa etária, nos últimos 30 anos.
Os transtornos do humor (depressão e psicose maníaco depressiva) são de longe, as condições psiquiátricas mais comumente associadas ao suicídio. No mínimo 25% a 50% dos pacientes com Transtorno Bipolar tentam suicídio, pelo menos uma vez. As mulheres fazem tentativas de suicídio com frequência duas a três vezes maior que o homem. O risco de suicídio, ao longo da vida, nesse quadro, é cerca de 15%. Os períodos de depressão são os que apresentam o maior risco.
Com exceção do Lítio, que é o único tratamento realmente eficaz contra o suicídio, notadamente pouco se sabe sobre a contribuição de outros tratamentos na redução da mortalidade em pessoas com graves transtornos de humor, em particular, na Depressão Bipolar. O lítio demonstra em seu uso crônico, uma redução de até setes vezes no risco de suicídio. Provavelmente, sua ação anti-suicídio está relacionada à sua propriedade serotoninérgica*e antiagressividade, e pode ser independente de su eficácia em evitar a ocorrência de novos episódios da doença.
Antidepressivos do grupo dos Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina, anticonvulsionantes e antipsicóticos são drogas que estão em estudo em relação à sua ação anti-suicídio, pórém dados mais definidos ainda são aguardados.
A psicoterapia pode ser extremamente útil, não só sustentando o tratamento e seus possíveis efeitos colaterais, mas ensinando o paciente como se sobrepor aos pensamentos suicidas.
O suicídio é, geralmente, uma manifestação de grave angústia psiquiátrica que, frequentemente, está associada a uma forma diagnosticável e tratável de depressão ou de outra doença mental. Em situações clínicas, a avaliação do risco de suicídio deve preceder qualquer tentativa de tratar doenças psiquiátricas e perguntar ao paciente diretamente sobre pensamentos ou planos de cometer suicídio é parte essencial de uma anamnese*bem feita.
Glossário:
Serotoninérgica: Vem de serotonina que é uma substância produzida no cérebro relacionada à sensação de bem estar.
Anamnese: entrevista inicial que orienta o profissional na direção a ser dada ao tratamento.
Texto baseado na Rsenha de Neuropsiquiatria, resumo dos artigos da revista Clin Psyquiatry, 2000: 61 (sup 9) dos autores: Alec Coppen, Charles B. Nemeroff, Charles L Bowden, Jai N. Giedd, Jair C. Soares e Samuel Gershon, Kay R. Jamilson, Michael T. Compton, Robert H. Lenox
Fonte: Ballone GJ, Moura EC - Lítio e Litioterapia, in PsuiqWeb, Internet, disponível em www.psiweb.med.br / Jornal Momento Psi
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