Por Rogério Miranda de Almeida - Doutor em filosofia pela Universidade de Metz (França) e em Teologia pela Universidade de Estrasburgo. Professor no Programa de Pós - Graduação da Pontíficia Universidade Católica do Paraná (PUC- PR). Publicou os seguintes livros: Nietzche e Freud - Eterno Retorno e Compulsão à Repetição (2005); Eros e Tânatos: A Vida, A Morte, o Desejo (2007). Todos pela Edições Loyola.
O ensino da filosofia, uma das mais nobres tarefas pedagógicas, é ao mesmo tempo uma das mais difíceis. Difícil porque, dada a própria origem da filosofia ocidental - cujo berço é a Grécia e, mais precisamente, a costa Jônica do séc 6 a.C -, a questão em torno da qual ela girava era do ser enquanto ser. Em outros termos, indagavam-se os jônicos: por que, a despeito do nascimento, da corrupção e da morte das coisas sensíveis, tudo permanece como se fosse o mesmo? Deve, pois, haver - completavam esses estudiosos da natureza - por trás do mundo fenomênico algo que nem envelhece e nem morre. Esse algo - representado ora pela água, ora pelo "indeterminado", ora pelo ar, ora pelo fogo ou, mais tarde, na visão de Empédocles de Agrigento, pelos quatro elementos juntos, era aquilo que, em última instância, constituiria o ser na sua indestrutibilidade e imutabilidade.
Algo do séc 5 a.C, a questão filosófica se deslocará para o próprio homem. ela se desdobrará sob a forma do "conhece-te a ti mesmo" efetuado por Sócrates, e sob a modalidade do ensino, das convenções, da eloquência e da antinomia entre natureza e cultura. É a questão dos sofistas e, consequentemente, da oposição entre os sofistas, Sócrates e Platão que, ao contrário daqueles, acentuavam a essência ou a natureza das coisas e do homem, e não a sua aparência.
Toda essa problemática, juntamente com as indagações que marcarão a Idade Média, os tempos modernos e a fase contemporânea, se acham desenvolvidas no meu livro, intitulado Eros e Tânatos: a Vida, a Morte, o Desejo, Edições Loyola, 2007, assim como em outra obra, que será brevemente publicada pela mesma editora, sob o título: A Fragmentação da cultura e o Fim do Sujeito.
Estas duas obras poderão, talvez suscitar a interrogação seguinte: em que consiste hoje o ensino de filosofia, se as interrogações que agora se colocam não mais têm como foco a essência última das coisas e do homem - como entre os gregos clássicos e os pensadores medievais - mas, antes, o ser considerado antropologicamente? Assim, na perspectiva da filosofia moderna, a pergunta se volta para o homem, ou para o anthropos, visto e examinado a partir de suas manifestações culturais ou de sua capacidade de construir e produzir seu próprio mundo e, consequentemente, a sua própria liberdade. Já do ponto de vista da filosofia contemporânea e, sobretudo, a partir do séc 19, o problema que se faz ressaltar é aquele desejo, do inconsciente, das forças, das pulsões, das significações e, em suma da linguagem.
Certo, são as mesmas questões que retornam, mas levantadas, examinadas, denominadas e significadas de maneira diferente ou, para dizê-lo nietzcheanamente, são as mesmas questões que se repetem, mas transformadas em novas verdades, em novas visões, em novas valorações e em novas interpretações. O que se verifica atualmente, porém, é um aceleramento cada vez maior dessas questões que não cessam de se desdobrar, de se acirrar e, ao mesmo, de se fragmentar.
Fonte: Revista Filosofia - Conhecimento Prático p. 66 Edt: Escala Educacional (n. 34)
Belo texto: preciso, claro, relevante e, sobretudo, bem escrito. O autor de "Nietzsche e o paradoxo" tocou nos pontos essenciais do problema do ensino da filosofia hoje.
ResponderExcluirSe este autor escrevendo é claro deste jeito, imagine só ele falando ou dando uma conferência. Eu daria tudo para ouvi-lo.
ResponderExcluirEle tem um site pessoal.
ExcluirEle tem um site pessoal.
ExcluirEu também daria tudo para assistir a uma conferência do filósofo, teólogo e escritor Rogério Miranda de Almeida. A Revista Filosofia - Conhecimento Prático está de parabens com o artigo deste autor. Por favor, peçam a ele para escrever mais para a revista.
ResponderExcluirDe fato, a "Revista Filosofia - Conhecimento Prático" acertou em cheio em publicar um artigo do filósofo e teólogo Rogério Miranda de Almeida, que não só escreve divinamente bem, como também toca em pontos essenciais e atuais do ensino da filosofia. Eu quero adquirir e ler todos os livros e artigos deste escritor realmente extraordinário.
ResponderExcluirA revista é ótima! Gostei muito de ter compartilhado com vocês estes pensamentos.
ExcluirA revista é ótima! Gostei muito de ter compartilhado com vocês estes pensamentos.
ExcluirBravo, Prof. Rogério Miranda de Almeida! Artigo maravilhoso! Este texto merece destaque pela sua pertinência, relevância e, principalmente, pela arte do escrever que caracteriza este filósofo e teólogo.
ResponderExcluirE esta tarefa como ele, aponta, deve ser além do destacar as etapas do pensamento filosófico mas estabelecer esta necessária ponte com o mundo contemporâneo e é justamente na promoção desta conexão que habita a beleza desta tarefa. Belo texto. Valeu pela visita.
ResponderExcluirImaginem se este filósofo e teólogo, Rogério Miranda de Almeida, escrevesse um livro inteiro sobre o ensino da filosofia. Se num artigo de uma página, ele conseguiu sintetizar com tanta maestria e clareza os principais desafios do ensino desta ciência, o que faria ele então numa obra inteira?
ResponderExcluirLi o artigo, "Questionar e ensinar", do professor, escritor, filósofo e teólogo, Rogério Miranda de Almeida. Impressionante o poder de síntese e a profundidade de análise de um tema tão complexo, e tudo isso feito numa só página. Parabéns ao incomparável Rogério Miranda de Almeida, cujos livros eu já havia lido, e a esta revista que publicou seu texto.
ResponderExcluirEu quero ler mais artigos deste autor. Como faço para adquiri-los? Quero ler também os seus livros, todos eles.
ResponderExcluirÉ isso aí. Um autor porrete como esses tem mesmo é de lido, relido e explorado nos seus escritos. Parabéns pelo artigo. Quero ler mais.
ResponderExcluirAlém do artigo apresentado aqui, eu li também, de Rogério Miranda de Almeida, "A fragmentação da cultura e o fim do sujeito", obra recentemente publicada por edições Loyola. Sem comentáros! Além da riqueza da escrita, o autor aborda e desenvolve questões dificílimas, como a subjetividade, com uma facilidade incrível. Tudo se torna claro e compreensível. É toda a história da cultura ocidental que desfila neste livro. Recomendo a sua leitura a todos.
ResponderExcluirEu também li o livro de Rogério Miranda de Almeida, "A fragmentação da cultura e o fim do sujeito", obra rica do ponto de vista literário, histórico e filosófico. Uma verdadeira lição. Eu também o recomendo.
ResponderExcluirRecomendação aceita! Anotado. Pelos temas abordados deve ser uma leitura ótima!! Obrigada pela visita!!
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