Conversando com uma amiga num gostoso café em pleno domingão pré-natal ouço a frase acima: o perfeito é inimigo do bom. Eu já tinha ouvido a outra frase "o bom é inimigo do ótimo", mas nunca tinha pensado que, para algumas pessoas, só o ótimo ainda era pouco. Precisava ser perfeito!
Sim, eu admito, ainda faço algumas coisas assim. Ainda tenho uns rompantes de perfeição de vez em quando. Ou muito, quase sempre, ou, meu deus, será que eu sou perfeccionista? Acho que não chego a tanto por um motivo só: as coisas na minha vida andam. Às vezes demoram, ou empacam, mas na sua maioria andam. Então, eu não sou perfeccionista, porque a vida em busca da perfeição não consegue muito sair do lugar.
Você só sai de casa se a roupa estiver impecavelmente passada. O cabelo precisa estar com todos os fios no lugar certo e o sapato precisa conversar amigavelmente com a calça. Até aí, ser caprichosa com você, tudo bem. O problema é, para perfeição, nada está bom. Ela é só uma ameba rechonchuda que povoa nossos sonhos e, quando acordarmos, não nos deixa em paz.
A perfeição é encontrar o impossível. Sim, o impossível, neste caso existe. A perfeição é inalcançável, é essa a natureza dela. Quando pensamos numa coisa perfeita demais, ela sempre pode melhorar daquilo que temos. Sempre podemos achar aquele pequeno defeito que poderia tornar as coisas melhores.
A perfeição geralmente aparece em nós quando não estamos bem. Quando estamos com a autoestima ou a autoconfiança abaladas em todas as áreas da nossa vida. Você sai, conhece um cara que tem 90% da sua "lista" de atributos, mas, ah, ele usa mocassins...que pena. Lá vai você sair sozinha da noitada, de novo, por conta de um mero detalhe do rapaz, que você nem sabe por que não gostou. Não existe liberdade na perfeição, não existe a aventura. É tudo certo demais, chato demais, meticuloso. Não existe alma na perfeição.
A mesma amiga do café contou que, depois de passar alguns anos morando fora do Brasil, estava louca por um banho de mar. Chegou a São Paulo, pegou o carro e correu para o litoral, onde tomou um delicioso banho. Depois almoçou com a mãe e, no fim do dia, cansada e feliz ela disse: "Nossa, o dia não poderia ser mais perfeito" e a mãe respondeu "É, pena que choveu".
Rimos muito com essa história. Naquele momento minha amiga não estava vendo a perfeição que a mãe enxergava. Ela queria o banho de mar, o dia, não tinha chuva. Ela nem se deu conta de que, de fato, havia chovido o dia todo. Aquele ótimo já estava preenchendo sua alma, não precisava de mais. A observação da mãe a trouxe para o mental, aquele que procura pela perfeição. O dia precisa estar ensolarado como nos comerciais de cerveja para que sejamos felizes? Claro que não! Podemos ser felizes no meio da tempestade, podemos ser felizes e estarmos em paz em qualquer situação, por mais que as pessoas achem que precisaríamos estar sofrendo ou qualquer coisa assim. O que sentimos, é isso que vale. O resto é só isso mesmo: um comercial de cerveja, com pessoas perfeitas e impossíveis, numa praia perfeita e impossível.
Andrea Pavlovitsch
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