A ideia de trazer este texto que fala de um evento já ocorrido é que o mesmo traz preciosas indagações acerca não só das relações de trabalho, mas da forma como a modernidade e suas ferramentas nos afetam no modo de compreender e interagir com o mundo. (Regina Bomfim)
Agir impulsionado por um movimento ou ideia lançada em grupo que gera uma "onda" não é um recorte de um movimento totalitário restrito à primeira metade do século passado - com reflexos na segunda. Acontece cada vez mais em nossa sociedade tecnológica e será tema do debate da edição do próximo Cine Fórum ABRH-RJ, dia 10 de outubro, das 13 às 17h, com análise das cenas do filme "A Onda" (2008)" do cineasta alemão Dennis Gansel, baseado em uma experiência verídica realizada pelo professor Ron Jones numa escola da Califórnia em 1967.
A história descreve o experimento desenvolvido pelo professor Rainer Wegner, que objetivava demonstrar, na prática, o significado da autocracia e como funciona o sistema que suporta regimes ditatoriais. Ao propor aos alunos o experimento, o professor diz: "Sei que é estranho, mas porque não fazer algo novo para variar?" Motivando a curiosidade dos jovens, ele obtém a imediata adesão de praticamente todos. Pouco tempo depois, Wegner se torna líder do experimento e seus alunos começam a propagar o poder da unidade e ameaçar todos aqueles que não pertencem ao grupo.
IMPOSIÇÃO DE GRUPOS
Quando o jogo fica sério, o professor decide interrompê-lo, mas já é tarde demais. A experiência foge ao seu controle e toma outro rumo. Uma simples cena do filme, na qual uma personagem questiona outra, em tom provocativo: "Sua roupa não é um tipo de uniforme?", pode trazer aos profissionais de Recursos Humanos reflexões e diversas respostas para a seguinte pergunta: Afinal em que momento perdemos a consciência de que muitas de nossas atitudes e posturas são determinadas por imposições de grupos? Nós podemos, devemos ou precisamos dar um freio a isso? Como? Por que?
No evento organizado por Myrna Brandão, diretora Cultural da ABRH-RJ, e Carlos Vítor Strougo, diretor de Projetos Especiais da ABRH-RJ, serão debatidos inpumeoros temas cotidianos que "A Onda" coloca para Gestão de Pessoas na empresas, como liderança, educação, poder, discriminação, uso de tecnologias, desejo de pertencimento, comportamento de grupos, bullying, assédio moral, entre outros. Para tornar mais profunda a vivência do público, o facilitador do debate será Paulo Monteiro, consultor de Desenvolvimento HUmano e Oranizacional e membro do Comitê de Criação do Congresso RH-RIO e também do Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas (CONARH).
UM FIO TÊNUE PARA GESTORES
Assim como no filme, muitos criadores de "movimentos em onda" perdem o controle ou não conseguem detectar que rumo o dimensão este "movimento" vai aos poucos, tomando. Em um ambiente organizacional, por exemplo, uma ideia lançada em rede, que foi contrária à cutura daquela empresa, poderá ter efeitos muito nocivos e por vezes irreversíveis à Gestão de Pessoas.
Esse Cine Fórum ABRH-RJ, segundo Myrna Brandão debaterá "fio tênue entre o que seria adesão a uma boa causa e um sadio pertencimento de grupo e o sentido do grupo fechado, que exclui aqueles que não compartilham totalmente com a visão proposta, sem a menor possibilidade de expressar essas idéias ou discordar do que é apresentado".
Outro ponto curioso e motivador para o debate, colocado pela Diretoria Cultural da ABRH-RJ, se refere à questão de sermos aceitos por um grupo ou estar em uma rede. Transposto aos dias de hoje, este aspecto expõe o pressuposto de que ser líder apenas no papel não representa muita coisa
Há nas empresas muitas lideranças informais e a visualização dessa tendência pelos gestores do negócio se faz necessária para que a empresa se torne ou permaneça sustentável. Voltando a uma frase deste texto que diz "o jogo fica sério, mas é tarde demais para interrompê-lo" tecnologicamente este "fica sério demais" pode remeter ao controle que as redes sociais estão, hoje, exercendo em muita gente dentro e fora das empresas. Estar na rede social é sempre bom mesmo? Será que todo mundo tem consciência sobre o que é estar lá? Que reflexões podemos fazer sobre isso? A autocracia de "A Onda" também nos leva a este debate.
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