O imperativo que parece guiar a maioria dos homens na Terra é a recusa à capacidade de pensar e, por conseguinte, a recusa à alegria de existir. Os homens seguem rastejando como se fossem vermes prestes a ser esmagados por desígnios superiores. O homem se resume a isso? Apenas um amontoado de células, impotente perante um universo inexplicável, a espera de supostas alegrias em paraísos por ele inventados?
Segundo Nietzsche, a constatação mais chocante é a de que os sistemas de pensamento foram forjados pelo ódio à vida e pelo desprezo ao corpo. Desde tempos imemoráveis nos ensinaram a odiar o prazer e os bons valores da existência em nome de ideais como a transcendência da alma, o amor ao próximo, e outros tantos projetos salvíficos que embotaram a mente e, por consequência, contribuíram para a decadência dos corpos. Os destroços que contemplamos ao nosso redor são os sinais das mentes atormentadas e torturadas pelos sofrimentos, medos e culpas.
Para o filósofo, o paradoxo humano reside no fato de que os homens dependem de suas mentes para criar a vida, todavia as mentes estão submersas em crenças destrutivas e, assim, o homem se arrasta pela existência amputado de sua faculdade principal: a capacidade de pensar. A imagem dessa amputação é um pássaro desprovido de suas asas.
Em oposição, Nietzsche nos concedeu seu método de resistência à fraqueza, que se insere no âmbito do que chamou “vontade de potência”. Para o pensador, o motor que move a vida humana é a vontade insuportável por mais vida. A vontade de potência é o símbolo do abandono de todo o fardo que o homem carrega a exemplo das religiões, misticismos, psicologismos vulgares e doutrinas políticas irracionais. É a explosão da realidade e o abandono da fantasia.
A mente inspirada pelos influxos da vontade de potência é aquela que ressurgiu das cinzas da morte e abandonou as velhas crenças que a torturavam. O símbolo dessa aurora mental é a primavera na Terra, estação que floresce o que há de mais puro e de mais sagrado na natureza e que inspira as mentes a renascer em sensibilidade, para celebrar o mais surpreendente sim à existência nesse mundo.
por Renata Rodrigues Ramos
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