Por
Joanna de Ângelis
Tornou-se ontológica a forma inamistosa do ser em relação à velhice, que considera como decadência, amargura, soledade, doença e morte, na visão estreita da imaturidade psicológica. Para esse, viver é acalentar sonhos permanentemente juvenis, sensações brutalizantes e de efeito rápido, passando de uma para outra entre insatisfações e conflitos íntimos.
A juventude, diga-se com clareza, não é somente um estado biológico atinente a determinada faixa etária. Mas também todo o período em que se pode amar e sentir, esperar e viver, construir e experimentar necessidades novas e edificantes. O período juvenil, limitado entre a infância e a idade da razão, é de muita significação para o desenvolvimento real do indivíduo, porque abre os espaços existenciais para a aprendizagem, fixação dos conhecimentos, ansiedades de conquistas e realizações, em um caleidoscópio fascinante. É também o período da imaturidade, do desperdício de oportunidades, porque tudo parece tão distante e farto, que os prejuízos de tempo e produção não têm significado profundo, dando nascimento a futuros conflitos que necessitam ser vencidos.
É jovem, porém, todo aquele que aspira aos ideais de enobrecimento humano, esteja transitando por qualquer período existencial, não importa. Mantendo a capacidade de realizar e realizar-se, de produzir e multiplicar, de renovar e renovar-se, desfruta do largo prazo da juventude real.
A velhice se apresenta quando o indivíduo se considera inútil, quando experimenta o desprestígio da sociedade preconceituosa, que elaborou conceitos de vida em padrões torpemente materialistas hedonistas. .
A Ciência médica está a comprovar a cada instante que todos os períodos da vida são ricos de oportunidades para aprender, para crescer e desenvolver a capacidade de fixação dos valores humanos. Os conceitos ortodoxos dos limites para o início da velhice, quando surgem os sinais de decadência orgânica, estão totalmente ultrapassados. Nesse contexto, a mente é fator importante que gera energias incessantes, num ou noutro sentido, de forma positiva ou destrutiva, e, enquanto se pode pensar com autoestima e confiança, os limites impostos pela idade desaparecem, para facilitarem a continuação da existência enriquecedora. Assim também, quando o jovem se deixa abater e passa a pensar destrutivamente, encarcera-se nos porões da decadência psicofísica e degenera.
O cérebro, que antes era pouco identificado nas suas incomparáveis produções, como a maior glândula do corpo humano, é hoje conhecido como um extraordinário e incomum conjunto harmônico de setenta e cinco a cem bilhões de neurônios em circuito especializado e complexo, como o mais notável computador que a mente ainda não pode conceber. Suas enzimas, cerebrinas, globulinas e outras secreções comandam as reações de todo o corpo, trabalhando pela vida física e psíquica. No entanto, essa mente não lhe é fruto de elaboração própria, procedendo de uma fonte geradora que o antecede e sucede ao processo do conjunto neuronial. Pesando em média um quilo e trezentos gramas, absorve oxigênio em quantidade expressiva, vinte por cento de todo aquele que necessita o corpo total. Quando ocorre a morte de cada célula nervosa e a mente trabalha, pesquisa e se esforça para manter os equipamentos em ordem, amplia-se, transformando as suas extremidades em árvores (dendrites), que facultam o fluxo das informações, sem qualquer solução de continuidade, produzindo as maravilhosas sinapses eletroquímicas, que mantêm todo o equilíbrio dele mesmo e do organismo em geral.
Ainda desconhecido e pouco utilizado, é centro dinâmico da vida, nas mais complexas operações que se possa imaginar, antena transceptora, que se coloca na direção das faixas parapsíquicas, sem perder a sua estruturação para os registros e captações no campo do psiquismo normal. À semelhança dos músculos que, não ativados pelo exercício, tendem à fragilidade, à flacidez, quando não movimentado pelas energias mentais renovadoras, perde as possibilidades de produção, porque ao morrerem as células nervosas, as restantes, sem novos estímulos, não se ampliam, falhando na transmissão das mensagens que lhes cabe registrar, encaminhar e responder. Durante milênios permaneceu quase desconsiderado da Ciência, havendo sido estudado e descoberto, praticamente, por Gall, médico e anatomista, pai da Frenologia, como Lamarck o fora do Transformismo. Até então, os conceitos se dividiam entre os filósofos, os pais da Medicina e da Patrística religiosa, com as suas superstições e conceitos ultramontanos. Passando por extraordinários estudiosos, dentre muitos outros Cabanis e Broca, a sonda da investigação foi penetrando a massa cinzenta e decifrando as suas protuberâncias, que hoje nos dão uma ideia, embora ainda muito imperfeita, do seu mundo de infinitas informações por detectar. Nele, portanto, estão as disposições e da velhice, dependendo sobretudo da mente que o vitaliza e movimenta, que o aciona e mantém.
Todavia, muitos creem que a velhice é sinal de perda de memória, de deterioramento do raciocínio, do desequilíbrio das emoções... Sem dúvida, com o suceder dos anos, a maquinaria orgânica experimenta desgaste e, certamente, diminui a capacidade de produção e eficiência de resultados. Entretanto, a perda de memória não é sintoma exclusivo do envelhecimento, porquanto muitos fatores contribuem para essa ocorrência em qualquer idade, como as enfermidades sutis, quais sejam as infecções urinárias, as intoxicações por medicamentos, a depressão, o mal de Alzheimer, etc. O importante, desse modo, é o estado psíquico do indivíduo, que lhe determina qual a fase em que se encontra e lhe apraz permanecer; se na juventude que se alonga ou na velhice que lhe chega precocemente. De extraordinário resultado é a ação do trabalho nesse comportamento, facultando o prosseguimento dos deveres, dos estudos, das buscas e realizações novas, sem fadigas nem justificativas de impossibilidade para crescer e permanecer jovem
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