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RELAÇÕES DE TRABALHO: QUANDO OCORRE BULLYING





Brincadeira sem graça

Bullying afeta quase 505 dos jovens em seus ambientes de trabalho, segundo pesquisa
Por Eduardo Vanini
Fonte: O Globo

Quem observa a gerente de recursos humanos de uma empresa de tecnologia comandar com segurança sua equipe de 12 homens e quatro mulheres não imagina as provações já vividas em sua carreira. Quando ainda tinha 21 anos, ela, que não ser identificada, recebeu uma promoção na metalúrgica onde trabalhava por meio de um processo seletivo. A missão era chefiar mais de cem homens formados em engenharia e mais velhos do que ela. Foi quase um desastre.
- Quando viram uma mulher e, ainda por cima, mais nova assumindo o cargo, começaram logo com piadas e provocações. Falavam que eu não tinha que estar ali, mas numa passarela ou fazendo book. Comentavam que minhas mãos eram muito delicadas para entender de máquinas e, quando eu ia com uma calça mais justa, ficavam comentando e dando risadinhas - recorda-se ela, dizendo que a parte mais difícil era quando menosprezavam sua inteligência. - como ela ainda não tinha terminado a faculdade, faziam perguntas difíceis na frente dos outros, tentando demonstrar que eu não tinha conhecimento sobre o trabalho, e procuravam defeito em tudo que eu fazia. As brincadeiras cessaram, e sua carreira seguiu em frente. Mas nem sempre é assim que eu não tinha conhecimento sobre o trabalho, e procuravam defeito em tudo que eu fazia.

Depois de um mês passando por isso, ela quis entregar o cargo. Foi impedida por seus superiores que acreditavam no seu potencial e reuniram a equipe para tomar as medidas cabíveis. As brincadeiras cessaram, e sua carreira seguiu em frente.  Mas, nem sempre é assim.


PRÁTICA RECORRENTE
Em uma pesquisa feita com 4.909 estudantes de 15 e 26 anos pela agência recrutadoras de estágios e aprendizes Nube, 49,52% deles revelaram sofrer bullying (classificado como brincadeiras de mal gosto e perseguições) em seu local de trabalho. Muitas vezes vindo de seus pares


- Isso é comumente tratado como uma brincadeira, mas não é bem assim. Pode até adoecer as pessoas. E os jovens são os mais vulneráveis. É comum ter aquele colega de trabalho que menospreza a idade e a roupa dele ou o põe para buscar o cafezinho. as pessoas ainda têm muita dificuldade em aceitar quem tem menos experiência - Avalia a analista de treinamento  do Nube, Rafaela Gonçalves.

Segundo ela, quem enfrenta essa situação tem medo de reagir e quem pratica não se dá conta do quanto é prejudicial, ao ponto de limitar o desenvolvimento profissional e até o networking  das vítimas. além disso, como ela destaca, há uma engrenagem que precisa ser desfeita: 6, 78% dos entrevistados já admitiram já ter sido vítimas, mas também ter praticado, indicando autodefesa.
- Percebemos, então, que se trata de algo que vai se perpetuando, como os trotes universitários - compara.

Levadas às últimas consequências, práticas assim podem interromper uma carreira. Foi o que aconteceu  com a estudante de Administração Carolina Peres, de 29 anos. Ela era estagiária de uma empresa de informática e recebia investidas de sua chefe sobre sua forma física.
- Quando ficava doente, ela falava que era porque eu não me alimentava direito e precisava emagrecer. O tempo todo enfatizava isso. Um dia, me viu comendo na cantina e falou 'você realmente não consegue parar de comer. Dessa jeito vai explodir.' No dia seguinte pedi demissão - conta.

EMOCIONAL ABALADO
Carolina deixou várias vezes o local de trabalho chorando e afirma que o pior era a sensação de impotência, pois não acreditava em solução.
-Fui indicada para um processo seletivo interno, mas não participei, porque não suportava mais. Não tinha clima para continuar - diz - Isso atrapalhava meu rendimento e meu emocional.

A psicóloga do trabalho, Maíra Andrade observa que, em geral, classificam como bullying ofensas individuais, que partem de atitudes consideradas mais leves, como chacota e isolamento da vítima. Mas isso pode chagar a condutas extremas e abusivas, com uma clara configuração de assédio moral.
- O bullying pode ser início de um assédio. Por isso precisa ser combatido logo, para que não vire uma bola de neve e desestabilize todo ambiente de trabalho. Às vezes o gestor percebe apenas quando o problema já tomou uma proporção tão grande que já afeta a vítima psicologicamente.

Rio já teve cem denúncias de assédio no trabalho este ano
Humilhação e situações constrangedoras para funcionário eram vistas apenas como 'gestão empresarial rigorosa'

O Ministério Público do trabalho não faz separação entre bullying e assédio moral. No Rio, só este ano já são cem denúncias e 20 inquéritos instaurados por assédio moral e discriminação a trabalhadores. No ano passado foram 632 denúncias e 271 inquéritos, além de  12 ações civis públicas. e a tendência é que as pessoas denunciem cada vez mais.

De acordo com a procuradora do trabalho, Luciana Tostes, integrante do grupo Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho do órgão no Rio, o trabalhador passou a reconhecer a prática do assédio moral, não mais confundindo com uma gestão empresarial rigorosa.
- As novas denúncias encaminhadas registram fatos objetivos que caracterizam o assédio, com relatos de exposição a situações humilhantes detalhadamente identificadas, vexatórias, constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante o trabalho - afirma, ilustrando com a exposição de empregados ao ridículo, como obrigá-los a dançar perante os demais colegas de forma vexatória, caso não alcance uma meta - a parte do reconhecimento da ilegalidade desta prática abusiva, os trabalhadores passaram a denunciá-la com maior frequência.

Como ela ressalta, a vítima pode ser assediada por um superior, um colega de trabalho e até um subordinado.
- O Ministério Público do Trabalho tem ciência de ocorrências nas quais os trabalhadores são assediados por colegas do  mesmo patamar. porém, este tipo de denúncia não é comum, principalmente quando comparada às crescente denúncias formuladas em face de superiores hierárquicos - diz.

Se tem empresa fazendo vista grossa para o problema, outras tratam o clima dentro da empresa como prioridade. a L' Oréal tem um Código de Ética em vigor há mais de 15 anos, que abrange diversas perspectivas, como concorrência leal, diversidade, privacidade e assédio. também foi criado o canal Voz Ativa, que recebe denúncias sobre desvios de condutas observadas nas equipes para interrompê-los e responsabilizar seus agentes.

TREINAMENTO E APURAÇÃO

Segundo a diretora de ética da empresa, Rosmari Capra- Sales, é possível evitar o bullying dentro do ambiente de trabalho por meio de treinamentos dos funcionários e de uma rápida apuração de casos dessa natureza.
Dependendo do assunto, corrigimos o comportamento através de conversa, advertência, suspensão ou, até mesmo demissão - descreve. - Na medida em que não haja aderência ao valor "respeito", os colaboradores entenderão que o jogo pode ser feito de maneira que lhes convierem e isso é ruim para os negócios.


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