MADRUGADA DE SEXTA PARA SÁBADO 03/10: EU OUVI
Pela madrugada, insone, ouvi uma briga de casal muito violenta. Foi da janela meu prédio e o casal estava na rua.
Senti meu sangue gelar e aquela impotência que como mulher, ouso dizer que toda mulher em algum grau viveu. Deu um cansaço… Fiquei pensando na história que levou àquilo, nos tempos tão modernos com sentimentos e atitudes tão antigas…
Num certo momento "tudo se acalmou", ela conseguiu sair viva, pegar um táxi e ir para casa, depois de um tempo razoável de gritos de dor e discussões. Não deu pra ver.
Ela saiu, foi para casa, seu corpo dói e o seu coração com certeza bate forte. Ela se livrou, mas seu coração também sente raiva, quem sabe até de si mesma por tudo ainda ser assim.
Foi pra casa, tomou um banho e chorou muito? Foi dar queixa? Colocou a foto do "boy" nas redes e escreveu um longo texto?
Uma mulher sozinha na rua, alta madrugada? Foi uma ficada, um namoro, um programa? Uma mulher na rua, de madrugada?
Falar da impotência é tratar de um sentimento humano, é falar de uma travessia negada pelos imperativos sociais que só valorizam a potência.
Pode ser que para se chegar á potência haja um caminho. É importante não observar os sentimentos como algo fechado em si mesmo, mas como uma travessa de muitas paisagens.
Ser mulher ainda é um desafio neste mundo. Vítima? Não, mas alguém que vivencia muitos sentimentos nessa travessia até se libertar.
Liberdade é ter uma rede de proteção legal eficaz e a "liberdade para dentro da sua própria cabeça".
Por uma rede viva de saúde mental para todos os grupos em situação de vulnerabilidade por apenas serem quem são. A luta continua. Dignidade já!( me aproprio da frase que sempre ouvia do jornalista e ativista gay Leão Lobo. Nem sei se é dele).
Regina Bomfim
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