DEPRESSÃO SORRIDENTE
Em geral, as pessoas imaginam que quem tem depressão fica o dia inteiro num quarto escuro, descuidado da aparência e da higiene a murmurar sua sorte
Há quem está sempre com um sorriso no rosto, contando piada, ativo(a) no mundo, trabalhando, mas vivem em silêncio muitas angústias. Estas são as que cometem suicídio com maior frequência e causam surpresa no seu meio, pois ninguém nunca viu nada capaz de mostrar que passava por problemas
Fica evidente o quanto este tipo de depressão é de difícil diagnóstico podendo causar um grande prejuízo a quem vive, pois é uma dor que se estende em silêncio e o indivíduo cria como que um personagem vivendo as expectativas do mundo e por dentro um desespero profundo que não se vê com recursos para sair pois, nem é claro para o indivíduo o que sente.
A pessoa está confusa, se sente abandonada pelas pessoas. Muitas vezes se sentir abandonado pelo outro se soma ao problema vivido, acentuando em muito o sofrimento.
"QUERO CHORAR O SEU CHORO, SORRIR SEU SORRISO..."
É um assunto polêmico, delicado - não é negar a visão presente na nossa sociedade - mas buscar colocar uma "lente de aumento” na visão de que as pessoas que se tem afeto têm a "obrigação* de dar todo suporte quando passa por momentos difíceis, como se esta fosse a prova deste afeto.
Nem sempre isto é possível por inúmeras razões. A pessoa pode estar passando ela mesma por momentos difíceis, não se sente apta a ajudar ou não quer ajudar mesmo por não querer se envolver, o que não significa não haver afeto.
É lindo de fato ter pessoas ao redor com quem seja possível contar em todas as horas, mais lindo ainda quando isso não vem como obrigação, mas como disponibilidade sincera de servir ao outro, porque às vezes as pessoas ouvem as outras por curiosidade, para contar aos outros sobre a vida alheia e até mesmo para usar contra quem falou.
RESPONSABILIDADE EMOCIONAL/AFETIVA
Falar sobre responsabilidade emocional é também falar do exercício de autocuidado, um dos pilares preciosos do autoconhecimento que, é entre outras coisas, pouco a pouco começar a compreender que as pessoas não têm obrigação de cuidar dos problemas alheios sem ver nisto uma infidelidade, ou perda de afeto, mas se permitir a pedir ajuda profissional, se não tiver recursos, buscar um grupo de ajuda mútua etc, começando a entrar em contato com os seus recursos, suas potências.
As terapias, os grupos, são processos temporários cuja finalidade última é devolver ao outro a chave que sempre foi e sempre será de sua propriedade: A chave de si mesmo.
Vivemos numa sociedade que tem muito preconceito com a ajuda em saúde mental, fazendo com que estes serviços sejam evitados ao máximo. Se o indivíduo percebe não conseguir usando seus próprios recursos internos, procurar ajuda é importante. Isto precisa ser falado. Muitas pessoas sorridentes por aí sofrendo em silêncio desesperado. Muita dor emocional de todo tipo nestes tempos.
Exercer a responsabilidade emocional para consigo mesmo é um caminho gradual de ir tirando dos relacionamentos a carga de "ter de" sustentar a dor do outro e com isso construindo uma relação de ética e transparência com o outro - a chamada responsabilidade afetiva.
O outro faz se puder, se quiser, mas o importante é fazer com o coração. Construir a possibilidade de estar consigo mesmo e com o outro de modo cada vez mais honesto, com respeito. É valioso perceber a importância de cuidar da sua própria saúde mental. Isto é se perfumar para a Vida, pro outro.
Regina Bomfim
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